Certamente a segunda a opção. O homem desiste de utilizar a
mentira como meio para atingir determinado fim, quando percebe que não pode se
enganar, que não precisa fingir e que o mesmo respeito que reivindica para si,
deve ter também para com os demais. Muitas vezes justificando a sua
utilização devido à fragilidade ou ingenuidade do semelhante para lidar com a
realidade dos fatos, é nesse sentido, muito mais um pretexto para desculpar a
falta de determinação e porque não dizer também de coragem que se faz
necessária para expor a verdade com sinceridade do que uma tentativa de
proteção ao próximo. Além do mais, é preferível uma verdade difícil de
ser digerida no primeiro momento do que uma mentira que acalente e que depois
de descoberta venha a machucar muito mais, causando apenas um falso bem estar e
ilusão momentâneos.
Isso
é claro não significa dizer que devemos adotar atos extremos, é preciso
ponderar e agir com a razão, se um semelhante se encontra por exemplo
vivenciando um turbilhão de problemas e podemos aguardar para compartilhar
determinada notícia ou situação quando ele estiver em melhor condição de ouvir
e digerir aquela realidade, devemos fazê-lo, sob pena de estarmos agindo sem
solidariedade, tornando o ato de dizer a verdade um ato cruel, essa é única
circunstância que consigo imaginar ser cabível a breve omissão, até que o
próximo se recupere e tenha condições de lidar com a situação.
Entretanto,
não é assim que temos agido e no dia-a-dia, multiplicam-se as pequenas
mentiras, chamadas de desculpas que passam a fazer parte da rotina, o atraso é
justificado pela demora do ônibus e não porque se saiu mais tarde do que
deveria de casa, a culpa é do trânsito (o que muitas vezes acontece realmente),
das contingências exteriores e nisso vamos nos infantilizando com ações
completamente desnecessárias que nos mantém omissos a demanda fundamental que é
de tomar a responsabilidade para si.
Certamente, o pior dos seus usos é quando a mentira é utilizada de modo
deliberado, com má fé, tendo por objetivo algum ganho pessoal e mais ainda
quando traz qualquer sorte de prejuízo para outrem, sem saber que o maior
prejudicado acaba por ser o próprio. Na estrutura em que nos encontramos,
no modo em que estão tecidos os laços sociais, há quem diga que a mentira se
faz muitas vezes necessária e é inclusive esperada, a verdade geraria um grande
incômodo diante de uma engrenagem que se utiliza dela como mecanismo importante
de funcionamento.
Há
quem diga também que uma mentira contada muitas vezes se torna verdade, mas,
ela é apenas uma mentira multiplicada com status de verdade, outros, inclusive
cientistas que investigam sobre a evolução da espécie, chegam a atribuir o
uso de tal dispositivo como um dos principais elementos para o desenvolvimento
cerebral, devido a necessidade de um maior nível de complexidade na elaboração
cognitiva que é exigida para mentir e chegam a estipular o número de mentiras
que se contam durante o dia. Para além dessas concepções, talvez um dos
questionamentos pertinentes na atualidade possa ser, qual a verdade sobre a
mentira? Sobre que bases ela se constrói? Qual a influência da cultura nisso?
Em um país como o Brasil o que significa o jeitinho brasileiro?
Mesmo
os mentirosos compulsivos, não gostam de ser enganados e é possível modificar
essa lógica de funcionamento social, o que precisamos pensar é como fazer com
que isso aconteça. Certamente, a medida que a estruturação da cultura vá se
modificando, permitindo ao indivíduo ser quem ele é, sem necessidade de
dissimulação ou uso de máscaras, educando as crianças não só com belas palavras
mas, a partir do exemplo para que se tornem adultos mais maduros, capazes de
arcar com suas responsabilidades, buscarem suas conquistas de modo legítimo,
pensarem e agirem de modo claro e com retidão, a partir do
desenvolvimento da consciência ética e crítica que só pode acontecer com
uma educação realmente integral (moral e cívica) deixaremos de utilizar a mentira
como muleta ou ferramenta para as mais variadas funções, reconhecendo que
a verdade tem força própria.
Nesse
sentido, levando em consideração e buscando relativizar a cerca das muitas
verdades e ilusões de cada sujeito é que a sinceridade, companheira fiel da verdade
deve ser ponderada. Afinal o que é mesmo dizer a verdade? O que significa ser
sincero? Há pessoas que com o perdão da palavra, vomitam verdades (as suas), de
forma tão áspera que atingem o outro (com ou sem intenção) causando muito mais
mal do que bem e quem de nós em um excesso já não agiu assim? Entretanto, ser
sincero não significa grosseria ou rudeza, pelo contrário, é necessário grande
sensibilidade e respeito pelo outro sendo então um grande desafio que estamos
todos convidados a encarar.
Vamos
vivendo, caminhando, aparando arestas e durante a caminhada, vamos descobrindo
que o nosso compromisso primeiro precisa ser com a própria consciência. Se em
1º de abril é o dia da mentira, no dia 03 do mesmo mês é o dia da verdade, tão
pouca divulgada, mas, com certeza já é tempo de começarmos mesmo que mansamente
até ajustarmos o passo, lhe prestarmos o devido valor.
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