terça-feira, 30 de junho de 2015

Mazzeo e a mídia





Na sociedade capitalista, os meios de comunicação, em sua maioria, constituem monopólios de informação e, consequentemente, de manipulação ideológica porque veiculam sempre as "informações" sob o enfoque hegemônico das classes dominantes e, por conseguinte, da ideologia dominante, influindo e moldando negativamente a subjetividade das pessoas, dificultando a formação de uma consciência crítica em relação à própria sociedade e às suas contradições.
                                                                             
Daí é fundamental para o aprofundamento da democracia a desmonopolização da informação, ou melhor dizendo, o controle social da informação e do acesso aos meios de comunicação. No caso brasileiro, isso é notório, já que temos os meios de comunicação nas mãos de algumas famílias que autocraticamente se apropriaram da informação.

Para fazermos avançar a democratização da informação, temos que pensar em novas formas político-sociais que permitam o amplo acesso dos movimentos sociais, sindicatos, universidades e escolas públicas, etc. às rádios e TVs, assim como construir emissoras de rádio e de televisão sob controle do conjunto da sociedade. Em meu modo de entender, a democratização da informação somente será possível com uma forte e organizada pressão da sociedade.

Antonio Carlos Mazzeo


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Racismo: da alienação à consciência crítica

O Surgimento
Desenvolvida no continente africano, foi de lá que veio o primeiro hominídeo  possibilitando o florescer da raça humana, o que significa dizer que sim, a cor fundante de nossa raça era negra e tal concentração de melanina, bem como os fios dos cabelos crespos serviam como proteção à caixa craniana diante dos raios solares, sendo recursos adaptativos sem os quais provavelmente naquele tempo a espécie não teria sobrevivido.
Com o afastamento do continente africano para outras zonas do globo terrestre onde existiam temperaturas menos elevadas, a necessidade de concentração de melanina vai sendo atenuada, o que produz o embranquecimento, bem como o desencaracolamento dos cabelos e o afilamento do nariz que serve como recurso para aquecer melhor o ar num clima mais frio e umidificar o ar seco inspirado. Ou seja, as mudanças se dão sempre como recursos que atendem a melhor adaptabilidade possível do animal humano ao seu habitat, gerando registros genéticos que originam as diferentes etnias.
Hoje em uma sociedade ainda marcadamente racista, por uma herança maldita de uma série de construções sociais anteriores (que recebem manutenção cotidiana por parte daqueles que querem manter o status quo), conseguimos utilizar tais diferenciações extremamente valiosas, como meio de opressão e hierarquização a partir de padrões equivocados e falsos pressupostos, sem a análise crítica de que são construções historicamente constituídas e que não só podem como devem ser desfeitas.

A África

Continente fértil e rico por natureza, somando hoje 54 países, não foi apenas o berço da espécie, bem como o solo  onde se desenvolveu uma das mais importantes civilizações antigas, a egípcia, a qual, ao contrário do que a cinematografia notadamente norte-americana se esforçou em reproduzir como brancos ou “morenos”, era constituída por negros que foram os responsáveis pelo desenvolvimento de um complexo sistema político, econômico e sócio-cultural.

Essa civilização promoveu o desenvolvimento da escrita, agricultura, medicina, comércio, arquitetura, navegação, extração de minério, matemática entre outros aspectos que exemplificam a inegável inteligência, sofisticação e legado para todas as civilizações posteriores que esse continente ofertou e continua a ofertar.
Vale ressaltar que desde essa época já existiam diversas formas de escravatura. A história global tem sido um repetir de guerras, invasão, espoliamento e submissão de um povo ao outro sempre movido pela insânia da ganância humana. A América Latina não foi um caso de exceção. 

A Escravidão

Até onde se sabe, o Brasil foi “descoberto” por Cabral, um navegador que trazia em sua nau, entre outros, uma série de degredados, criminosos portugueses sentenciados, portadores de diversas doenças que não só abateram muitos membros da sociedade indígena, como na maioria das vezes a partir de estupros foram dando origem à miscigenação que nos é característica, e a qual posteriormente também foi "encorporado" o povo negro de modo certamente não menos violento.
E entre descobrir a rica terra do pau brasilis e fazê-la colônia de Portugal, temos todo o desenrolar da história amplamente difundida que já conhecemos, mas aqui interessa questionar: E os africanos nesse contexto?
Já existindo como perverso motor da economia mundial, a escravidão fez com que esse povo fosse trazido da África em seus mais diferentes países, arrancados de suas raízes, exilados de sua terra, cultura, família... Tendo invalidado a sua constituição hierárquica muitas vezes alicerçada em reinados e principados, o povo negro africano foi expatriado, morrendo aos milhões nas viagens de navio e quando resistindo, ao chegarem no Brasil, foram escravizados e tornados moeda de troca como mercadoria corrente.
Contudo, essa história de fato não é a de um povo impotente que foi subjugado sem batalhar ou resistir. Trazendo o seu saber ancestral, a sua sapiência, sua força foi expressa na capoeira, por exemplo, como uma das possibilidades de luta, além de incontáveis atos de resistência e enfrentamento direto e indireto que fez surgir diversos quilombos, além de investidas de revolução protagonizadas por valiosos guerreiros, homens e mulheres que podem ser sintetizados na figura de Zumbi e Zeferina os quais deixaram um imenso legado, cujo patrimônio é material e imaterial.
No avançar da história, quando foi decretada o fim da escravidão, ao invés de obter um efetivo reparo pelo holocausto que sofreram por quase quatro séculos, uma das primeiras leis a serem criadas pós decreto foi a “Lei da Vadiagem” que autorizava prender o indivíduo que estivesse “vagando” e assim sem reparação, de bolsos vazios, muitas documentações queimadas, definitivamente abandonados a própria sorte, diante de uma política estatal de embranquecimento que importava estrangeiros, tais sujeitos foram empurrados para a margem dos centros, para os sub-trabalhos, obrigados a sobreviver sem o pleno direito a cidadania, em condições de insalubridade fragrante.
Tal contexto é o fio condutor que explica a origem do que hoje se configura como as denominadas "comunidades" e sua relação esquizofrênica com o Estado que ora é ausente nos aspectos que lhe são pertinentes como educação, saúde e renda e  ora garante com prontidão a sua vergonhosa presença meramente repressiva e assassina (sem exagero algum). Sendo por tanto até os nossos dias um Estado cuja lógica de funcionamento continua perversa e racista, ratificando em incessante continuidade os pressupostos que deram origem, por exemplo, a corporações infames como a Polícia Militar na Bahia que até hoje vigem sob o mesmo paradigma constituinte.

Diferenças e desigualdades

O ser humano como ser social, constrói, assimila e transmite crenças, valores e costumes que formam esse grande arcabouço denominado de cultura, a qual acaba por constituir um conjunto ético e moral que norteia (muitas vezes dita) formas de existir e interpretar o mundo.
Na contemporaneidade, nessa cultura cuja lógica primordial é o uso, abuso e descarte, o intercruzamento de duas lógicas perversas: capitalismo e racismo, faz com que aja uma sobreposição maldita que pode ser testemunhada a olho nu e facilmente correlacionada nos dados estatísticos das mais simples pesquisas. São os negros que recebem menores salários, que estão nos trabalhos informais, que estudam menos, os que atuam nas funções socialmente subalternizadas, os que fazem uso de um sistema de saúde e educação precarizados, que estão em zonas de moradias irregulares, sem falar no mapa da violência com seus dados sanguinários.
Parafraseando Hamilton Borges (um dos lideres do Movimento Reaja, herdeiro na linhagem direta de Zumbi e Zeferina), os negros chegaram acorrentados e continuam, afinal são eles que lotam as prisões, que são mortos e enterrados em cova rasa como se suas vidas não valessem nada e isso como vimos não é gratuito é fruto de uma construção histórica.
Foram duros golpes na dignidade humana, na auto-estima, todos os elementos da cultura de um povo foram desvalorizados, tratados com sacrilégio e o efeito não podia ser dos mais perversos: a aceitação dessas crenças, uma vez que as ideologias da classe dominante foram assimiladas pela classe dominada, é como dizia Stevie Biko "A mais potente arma na mão do opressor é a mente do oprimido" e como ainda é grande essa opressão!
Nesse sentido, também é preciso lembrar Malcolm X em seu célebre discurso: "Quem te ensinou a odiar a textura do seu cabelo? Quem te ensinou a odiar a cor da sua pele a tal ponto que você se alveja para ficar mais branco. Quem te ensinou a odiar a forma do seu nariz e lábios? Quem te ensinou a odiar você mesmo da cabeça aos pés? Quem te ensinou a odiar os seus iguais? Quem te ensinou a odiar a sua raça tanto que vocês não querem estar perto uns dos outros?" Mas, isso vem mudando!

Reconhecimento

Sem dúvidas é grave a situação, contudo, não é possível cair no pessimismo porque esse em nada pode contribuir para mudança, pelo contrário... Mesmo a passos lentos, é fundamental falar das iniciativas de reparação, dos grupos de enfrentamento da sociedade civil organizada, do conhecimento da história crítica por uma juventude antenada que não compra a "história oficial" como verdade definitiva (até porque não é), e sobretudo disposta a mudar esse cenário. Afinal, se o sujeito não for capaz de pensar a sua condição também como resultado de uma construção sócio-histórica, ele se perde na rota, se descontextualiza,  culpabiliza ou se vitimiza, interiorizando essa lógica racista que perpassa a todos e requer lúcido enfrentamento.

 Mudança de Mentalidade

Temos muito que caminhar até chegarmos a ser uma sociedade onde as diferenças não impliquem em desigualdades, onde sejam ofertadas reais oportunidades de cidadania a todos e o movimento de auto-afirmação, luta, denúncia, enfrentamento e resistência com posicionamento crítico, além da fomentação imprescindível da auto-estima, vem certamente crescendo a olhos vistos nessa direção de modo a engendrar mudanças no Estado e na sociedade. 
Apesar do protagonismo ser de quem tem na pele e na consciência a chaga histórica que necessita cicatrizar, essa discussão não é apenas dos negros, é também dos pardos, brancos e porque não dizer dos indígenas, ora, é de todos que querem uma sociedade melhor! E os brancos em especial tem muito que falar, quando conscientes da origem e do que representa essa condição de privilégio, nenhuma mentalidade  com pensamento coerente, racional, pode querer que tudo permaneça no estado de coisas em que está, essa condição de privilégio também é muito vergonhosa.
Quando houver proporcionalidade sem estranhamento por parte de quem está sendo atendido no hospital de médicos negros, pardos e brancos, bem como na figura por exemplo de juízes e em outras instâncias de poder, saberemos que a chaga se não cicatrizou estará em vias de cicatrizar e o Brasil se tornará um país verdadeiramente de todos, onde ninguém tenha que viver se sentindo em diáspora, precisamos dessa transformação premente aqui e no mundo e cada um de nós podemos contribuir no limite de nossas possibilidades para fazer com que esses novos tempos não se demorem a chegar!


Afinal: “Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”.
Martin Luther King

terça-feira, 2 de junho de 2015

Viajante



Não vejo graça na piada,
Que tantos cismam em contar,
Não riu na mesma roda,
Que essa gente insiste em dançar.

Minha nota é dissonante,
Não tem como encaixar,
A melodia dos ventos,
O que a brisa teima em soprar.

Faço assim o meu caminho,
Que se abre com meu próprio pisar,
Ando só, mas não sozinho,
A boa gente a me guiar.

Principio para o infinito,
Abrindo as porteiras de mim,
Entre o silêncio e o grito,
Entre o início e o fim.

Me lanço para além,
De onde as vistas podem alcançar,
Sem alardes, sem conclames,
Vou desbravando o além mar.

Não há razão de temer ir,
A cada passo dado,
O precioso ganho,
É a descoberta de si!