quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Entre o ideal e a prática


Nas escolas desde o ensino básico ao universitário, nos hospitais e nas prisões, instituições que no campo legal são amparadas por leis como a Lei de Diretrizes e Bases, Lei orgânica da Saúde e Lei de Execução Penal respectivamente, é lugar comum se perceber a distância abissal entre “teoria e prática” e nesses contextos tem se tornado cada vez mais uma espécie de chavão que muitos profissionais repetem ao infinito sempre dizendo o quanto “é complexo”, o quanto “é difícil”, o quanto “é limitado” e praticamente intransponível essa distância.
Pois bem, sem pretender negar a dimensão macro, de cunho político-econômico-social que faz com que vivamos nesse estado de coisas, pode-se dizer sem receio de incorrer em leviandade que todas as pessoas das quais se costuma ouvir tal espécie de discurso não fazem no limite de suas possibilidades um milésimo do que poderiam fazer para contribuir na transformação desse cenário, fazendo antes desse discurso do “muito complexo”, “muito difícil”, motivo, pretexto, desculpa para não arregaçar as mangas e ir à luta nas suas práticas cotidianas em tais espaços nas minúcias que muitas vezes dependem apenas de sensibilidade e motivação.
Desacreditados, desesperançados, mal remunerados, tudo parece contribuir para o pacto de mediocridade que vige, o que não apenas é lamentável, como grave. O desafio parece ser não perder de vista a grande conjuntura, mas ao mesmo tempo não a utilizar para se permitir a isenção da parte que cabe a cada um de nós nessa mudança de direção, é preciso mudar o macro, contudo não é menos necessário mudar o modo de agir no micro até porque talvez o todo apenas esteja refletindo as mínimas partes que o constituem, se cada um fizer a sua parte essa nação entra definitivamente na rota do progresso, para se tornar verdadeiramente um país de todos.

domingo, 21 de setembro de 2014

Reeducação integral


Comumente fazemos dietas, regimes, reeducação alimentar a fim de promover a saúde, combater ou atenuar as doenças, além de claro, erradicar ao menos em determinado aspecto as habituais preocupações estéticas. Quem diminui o sal logo consegue abaixar o alto nível da pressão, quem corta fritura e alimentos ricos em gordura de má qualidade e introduz os de boa conseguem a um só tempo reduzir o LDL e aumentar o HDL, o mesmo se segue em tantos outros aspectos que são impactados na mudança de alimentação.

Mas e se essa determinação por mudança, por melhoria, por transformação não se restringisse à área alimentar no sentido estrito do termo? E se passássemos a limpo o que temos servido de informações como alimento para o nosso cérebro, não apenas com o que entra mais com o que é produzido e depois "sai" buscando observar a qualidade dos nossos pensamentos checando com o que estamos ocupando tempo e voltando a nossa atenção?

Se buscássemos também reduzir os excessos das palavras, das conversações fúteis/inúteis, do palavrório vazio e tantas vezes insensato e leviano? Se mudássemos certas atitudes arraigadas que possuem caráter disfuncional e implantássemos novos hábitos? Bem se buscarmos agir assim com esse auto comprometimento certamente perceberemos que a reeducação necessita ser percebida de maneira ampla, incluindo modos de comportamento, no falar, no pensar... A fim de conquistarmos uma saúde verdadeiramente integral o bom alimento necessita ser físico, psíquico e espiritual. 

Não percamos mais tempo com tolas distrações, a tarefa é árdua e contínua, que tal começar agora com os novos ares da primavera a nos inspirar? "Mutatis Mutandis" mudando o que precisa ser mudado com o primeiro passo desde já!

sábado, 13 de setembro de 2014

Renovação


O antigo e sábio aforismo desde muito nos aconselha “conhece-te a ti mesmo”, de modo que possa caminhar com passos firmes rumo à construção do destino que aspiras, sem que te permitas ser mero barco a vela que é lançado ao sabor das ventanias, no pulular das circunstâncias.
Segue com retidão honrando os compromissos que adquires, renova o íntimo e não teima nem te acovardes diante dos esforços que se fazem necessários para sua transformação, de tempos em tempos analisa o roteiro para ver se desvirtuas ou segues na exata direção.
Não te afastes da disciplina e busca sempre o teu íntimo renovar, filtra os pensamentos, educa os sentimentos para que deles não te possas escravizar. Ergue a fonte, olha o horizonte que então buscas desbravar e caminha com coragem, mesmo em meio à tempestade lembra que o sol sempre volta a brilhar.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dos Desejos: prazer e dor.




Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas.

 Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem. Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.

Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita. Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de urna mesa farta que tomam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.

De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.

Epicuro em Carta sobre a felicidade (a Meneceu).
   * Obra de fácil localização na internet, tão breve como profundo.