segunda-feira, 21 de março de 2016

Rendição




Se algum dia o meu corpo,
Em seus braços naufragar.

Morro afogada,
Sem receios do seu mar.

Se a tua força me traga,
Eu só posso me entregar.




terça-feira, 8 de março de 2016

Mulheres


Certamente, há muito que se conquistar para uma total emancipação da mulher, na atualidade, apesar do que preconiza os direitos humanos, ainda temos cenários que apontam para uma  pavorosa subjugação feminina, chegando  as raias da clitoridectomia realizadas em alguns locais da África, no Oriente Médio e no Sudeste Asiático, negando assim à essas vidas o direito  sobre o próprio corpo e qualquer possibilidade de prazer que lhe seja associado.

De modo a exemplificar os avanços que vem sendo a duras penas conquistados, vale lembrar que a Gâmbia anunciou no final de 2015 o sancionamento da lei que passa a proibir tal prática, a qual afeta atualmente cerca de 130 milhões de mulheres nas regiões supracitadas segundo dados de pesquisas do UNICEF.

Esse corpo sobre o qual práticas tão perversas recaem, seja de um modo explícito ou das formas mais abstratas e sutis, as quais são capazes de fazer com que às vezes as próprias mulheres absorvam-no e reproduzam de modo acrítico, já não podem persistir, fazendo com que pela lógica do patriarcado sejamos alvo e objeto de perversa manipulação, como se fossemos peças de vulgar coleção da qual querem extrair todos os frutos e arrancar os galhos.

Assim, na atualidade temos o dever de sobrepujar a reconquista sob o corpo como propriedade nossa, agregando ainda nessa seara de demandas os demais aspectos por se alcançar como maior espaço nos setores de relevância social e poder decisório tais como a política, a justiça entre tantos outros  setores da sociedade que estamos ou iremos nos incluir futuramente, com a tão almejada igualdade salarial.

Esses passos estão sendo dados e a mudança paulatina de cenário ocorre desde o micro, através das pequenas desconstruções que se realizam no âmbito familiar para que novos paradigmas possam emergir e, no macro, através da insurgência de pessoas como a modelo somali Waris Dirie que vem denunciar a circuncisão feminina, da ativista paquistanesa Malala Yousafzai que vem a público reivindicar o direito a educação em seu país.

Entre as brasileiras, como não se lembrar de Maria da Penha uma ativista que teve a força de denunciar a violência doméstica que sofria e  de reivindicar a justa repressão, tendo conseguido através da sua luta, somando forças, sancionar uma lei que impõe novos parâmetros punitivos dentro desse contexto. Certamente, há  outras tantas que desde muito apesar de suas especificidades, percorreram esse caminho de força comum e das quais podemos nos lembrar.

Sem dúvidas são muitas as lutas e muitas as guerreiras de longa data e é preciso prestar reverencias à elas que no cotidiano são as professoras, enfermeiras, domésticas, mães, mulheres do lar,as quais põem as nações de pé fazendo mover suas mais íntimas e valiosas engrenagens e que já não querem ser heroínas super dotadas com tripla jornada, mas antes buscam (caso desejem) quem possa andar lado a lado, de cabeça erguida com funções compartilhadas e mãos dadas na estrada. Temos sim caminhado e ainda há muito que caminhar em direção à essa tão desejada e fundamental conquista de uma autonomia que não é tão somente financeira, mas intelectual e emocional, total, completa, inteira.


Sigamos!!


quarta-feira, 2 de março de 2016

Bom Trabalho!!



Nesses tempos onde tudo é fast, o futuro parece tão inseguro, procuramos desesperadamente estabilidade financeira, criamos padrões, seguimos modelos e chegamos mesmo a inventar termos como “concurseiros”, ansiosos em passar para algum concurso público onde tenhamos os salários garantidos, sem levar em consideração se a função oferecida está em consonância com nossas aspirações.  

Nos esquecemos do bem estar pessoal, acreditando piamente  que podemos resumi-lo à aquisição de bens, com o passar do tempo, surge a insatisfação, stress e depressão viraram termos da moda, porém, não são mais que consequência “natural” dessa tentativa insana de nos reduzir a uma dimensão que atende unicamente a lógica capitalista, lógica essa que teima em guiar nossa cultura e nosso modo de existir no mundo. 

Triste fim que o homem valha pelo que possui e não pelo que é, nessa correria não há tempo para refletir, se autoconhecer e trilhar um caminho comprometido com a nossa felicidade, o mundo aparece com mil urgências e não cessa de inventar necessidades supérfluas e descartáveis. O que estamos fazendo conosco, entregando horas a fio de nossas vidas desempenhando funções sem significado íntimo? E o pior, muitas vezes sem o mínimo de compromisso e respeito necessário pelo salário recebido, o qual cumpre a função com a qual mais nos preocupamos; o sustento.  

Não se trata de utopia, nem vã reivindicação, de certo, o homem precisa trabalhar e existem demandas para a sua sobrevivência, o trabalho honesto e as conquistas que dele advém são salutares, entretanto, é bem melhor quando estão em consonância com nossas aspirações, nos possibilitando o desenvolvimento das potencialidades. Vida genuinamente próspera só é possível com bem estar e satisfação íntima, nos garantindo prazer no exercício da profissão (seja ela qual for).   

Não nos enredemos neste discurso competitivo, nessa corrida para o abismo solitário onde repousa nossas aspirações desbotadas, sempre que nos entregamos à falsa ideia de que ter um trabalho por si basta e satisfação é ter dinheiro no bolso, depositando a expectativa de tranquilidade e realização de sonhos em um futuro longínquo normalmente associado a aposentadoria  que pode não chegar, afinal não sabemos quando seremos convidados a voltar para casa, a nos retirar. 

Hora, a vida é curta, quando vemos já passou, não temos o direito de desperdiçá-la amargando os nossos dias e os de quem conosco convive ou precise dos nossos serviços. Dos garis, médicos, professores, motoristas e outros milhares de profissionais com que na vida cruzamos, sabemos muito bem fazer essa distinção, é diferente quando tem verdade, real comprometimento, respeito, amor e dedicação.