Tive mais mulheres do que os dedos das mãos podem contar, a perder de
vista! Soube ser galanteador como poucos, me esmerei na arte de iludir... Ah,
quantas donas! A essas pequenas sempre frágeis e carentes jurava mentiras como
conta verdades, cada conquista era um capricho a mais para a minha vaidade.
E assim passava o tempo, corria a idade... Nas rodas de amigos eram
altas as gargalhadas, sempre contando vantagens e bebendo a vontade. Do amor
não sei bem, talvez algum dia gostei de alguém, mas preferi mesmo colecionar os
troféus que tais conquistas para mim sempre representaram... Ah, tão
inconstantes, tão fúteis, descartáveis e inúteis amantes.
Não me dei por inteiro jamais a ninguém! Amante só do prazer e deles bem
gozei! Tive tudo o que esse mundo podia me oferecer, mulheres, bebidas... Tudo
o que para mim era o que deveria valer... Ninguém jamais ousara me dizer um
não, afastei-me da família para evitar retaliação e mal disse a tudo e a todos
que queriam me impedir de viver, os tirei do caminho como obstáculos ao meu
prazer.
Vivia entorpecido, festas, farras e até bacanais, quando o cansaço ou
doença me abatiam, esses eram dia infernais! Nenhum amigo ou pequena para me
visitar é que a vida continuava e a alegria deles não podia parar... Era sempre
minha mãe que acabava sabendo e vinha me cuidar.
Já estava com cinqüenta, quando então o corpo não aguenta e começa a
querer falhar, os arroubos da juventude deixaram suas marcas, mas tentava
inutilmente negar... Quando sentia a pressão no peito colocava a mão com força
até ela passar, pensava-me ainda jovem e queria continuar! Havia tanto o que
viver e queria mais prazer, mas veio àquele mal estar contraindo de súbito o
meu peito e não pude resistir...
Quando acordei estava aqui! Agora nesse leito de hospital relembrando o
que vive, minhas paisagens mentais são um deserto amargo a me fustigar, que
lembranças mais infelizes para se lembrar... Nem um dos meus velhos amigos veio
me visitar, se quer a mais ousada das morenas ao meu leito veio pousar... A
vida se revela uma troça, uma ilusão, há quantas mulheres fustiguei o coração...
Hoje sei que nunca fui feliz, tive sim tudo que quis e me lancei em
tentativas inúteis de aplacar minha solidão e foi tudo um grande engano, imensa
ilusão! Como pude ter sido tão insano, ainda haverá chance de redenção? Dizem
que em breve terei alta e vou me recuperar, mas que preciso pegar leve se me
quiser re-estabilizar... Como seguir um ritmo leve com a consciência a pesar
toneladas? A chance que me resta é construir novo caminho, é me lança em nova
estrada!