Dizer a juventude
que as drogas só fazem mal é antes de tudo lhes subestimar a inteligência, uma
vez que tanto lícitas como ilícitas tais substâncias só são capazes de gerar
adictos pelo fato de produzirem sensações prazerosas, de alívio, de excitação,
de relaxamento em curto prazo ou de modo imediato, além de servirem como veículo
de socialização seja para se enturmar, para parecer mais autoconfiante ou
simplesmente fazer charme entre tantos outros motivos possíveis.
O modo mais coerente
de tratar sobre o tema não parece ser a partir do prisma da demonização das
substâncias ou dos usuários, em uma análise estreita que isola os fenômenos
sócio-culturais, psicológicos e biológicos envolvidos.
Buscar compreender
esse fenômeno de maneira mais ampla, não discriminatória e preconceituosa
(possível) é sem dúvidas o ideal. Se atendo as drogas lícitas como álcool e
cigarro, por exemplo, cujo acesso é simples e fácil uma vez que a lei de venda
para maiores de dezoito anos ainda que exista raramente é respeitada, é preciso
ponderar que o uso em si não implica em dependência, necessitando
correlacionar-se a frequência e intensidade no espaço temporal para que tal
vinculação aconteça.
A partir dessa
ponderação, verificamos em países como o Brasil diante de diversas pesquisas,
especialmente as oriundas da Organização Mundial de Saúde (OMS) que tem sido
cada vez mais precoce o início e frequente o uso (em termo de vezes) de tais substâncias, o que ai
sim abre campo para a dependência.
Apesar de no início
desse ano a OMS divulgar queda da parcela de fumantes de 2006 com 15,7% para
11,3% em 2013, ainda é grande o número de usuários cujo maior índice 75% na América
Latina, por exemplo, começou a fumar entre 14 e 17 anos, com estimativa de 50% de
esses virem a se tornar dependentes.
Em tempos de redução de danos, em uma sociedade que desde os
tempos mais longínquos fez uso de substâncias alucinógenas, diante do apelo
fácil que a nicotina faz estimulando a dopamina ou o álcool o sistema GABA e bem
como os demais e seus variados apelos, parece mesmo que a grande demanda é absorver
criticamente todo esse conhecimento produzido voltando o olhar para o humano e
a natureza das relações que este estabelece com as substâncias e sua representação, não apenas com toda sorte de
drogas, mas com qualquer relação que lhe traga dependência (chocolate, pessoas,
compras...).
Como bem disse Antônio Nery “As drogas são produtos químicos sem alma, não
falam, não pensam, não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me
interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes”. Voltemos então
nossos olhos para esse ser a fim de compreender suas razões, limites e
possibilidades dentro da sua realidade,sem esquecer o enquadre social, lembrando que para quem quer abandonar
essas muletas há desafios e dificuldades, mas todas possíveis de serem
superadas desde que existam real suporte e auxílio, além de claro força de vontade.