Falar
sobre educação em países como o Brasil nos fomenta reflexões das mais variadas
ordens, se pensarmos no paradigma educação pública versus educação privada,
logo constatamos o quadro de precarização do sistema educacional público
brasileiro, o que não é de modo algum novidade para a sociedade, sendo
especialmente agravado na região norte e nordeste. Contudo, engana-se quem
pensa que apenas a rede pública goza de tão infeliz status, a rede privada
também padece, entretanto, por outra via, onde se o ensino público é de modo geral
essa falência declarada, o privado ao oferecer uma formação voltada
exclusivamente para a meta de formar vestibulandos aptos a ingressar nas
universidades federais e estaduais também reduz muito o real potencial
formativo que deve ter a educação.
Reconhecendo
sua dimensão política como bem diria Freire, a educação em parceria e continuidade à família deve
ser capaz de formar não apenas bons vestibulandos, mas cidadãos críticos e
conscientes. Com valores muito aquém do ideal preconizado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), de modo geral, quando observada às diferenças entre rede pública e privada,
constata-se o óbvio, de que há educações distintas sendo desenvolvidas em
território nacional, onde tais diferenças servem apenas como elemento
excludente e marginalizador no sentido stricto da palavra. Sendo assim, ainda
que se aponte avanços, resta a certeza de que existe muito que caminhar numa
oferta de formação que faça jus ao termo Educação.
Essa
formação passa por uma mudança radical na concepção literalmente medieval de transmissão de
ensino, de educação que até hoje vige em nossa sociedade, a qual contraditoriamente vivencia a era
da informação e do conhecimento. É preciso repensar e reconstruir lugares e
papéis nesse novo cenário, onde o estudante não é mais o mesmo, o professor e a
escola também não podem ser, como bem disse Viviane Mosé: “Não é mais possível que a educação se resuma a administrar
conteúdo, tem que ser desenvolver raciocínio, análise e interpretação de dados... É preciso criar e não repetir”.
Quando
tivermos alcançado esse nível, certamente teremos maior espaço para arte,
filosofia, tecnologia com integração ao meio-ambiente, a cidadania transversalizada nos conteúdos, além da inclusão de noções fundamentais de áreas de conhecimento
como psicologia, direito público, entre outros, uma vez que se trata de uma
negligência aterradora não ofertar aos estudantes em formação desde a tenra
idade o contato mais articulado com todo esse conhecimento já produzido e que está
em permanente construção, implicando-os como atores que integram esse processo e também podem não apenas construir mais desconstruir paradigmas quando obsoletos.
É preciso colocar os indivíduos em formação em contato com os
ditames sobre os quais se edificam não apenas o seu país de modo político-econômico-cultural, mas a sociedade global na qual ele se encontra inserido, além de estabelecer contato com o saber sobre o comportamento humano do ponto de vista subjetivo e social, entre outros
aspectos, dotando-os de familiaridade com dimensões de valor e importância
fundamentais em uma sociedade que se pretende democrática.
O
que temos por tanto na atualidade ainda é um projeto de educação que não saiu
efetivamente do papel, mesmo possuindo uma Lei de Diretrizes e Bases (LDB) robusta, o que temos até
o momento é uma educação que está redundantemente por se educar/politizar no
sentido rico do termo para poder cumprir o seu real papel. Certamente cada cidadão possui a sua parcela de responsabilidade nessa
construção que não se dará se não com as nossas ações e força articulada reivindicando
o que é legítimo e se faz urgente, uma educação formativa emancipada e
emancipatória.