quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal é renovação



Quem já saiu de um pseudo diálogo com a sensação de ter travado uma batalha, sabe o quão cansativo, inútil e pesaroso essa situação costuma ser. Podemos ser educadamente grosseiros em meio a farpas e ofensas destiladas com o sarcasmo e o verniz de um humor desbotado.
Mas, será que vale a pena? Ora, nessas circunstâncias não há vencedores e derrotados, todos saem perdendo. Certamente é um desafio vencer o primeiro ímpeto de “ter razão”, “de sair por cima”, “de não deixar barato”, o ego e o orgulho explodem com mil frases de efeito para nos dar motivação.
Contudo, se realmente tivermos o compromisso com ideais mais lúcidos e maduros teremos então que abdicar de lutas inglórias em vãos duelos que de nada servem ou tem para nos ensinar.
Silenciemos por um momento, nos afastemos da situação, que tal nos darmos tempo para uma reflexão? Quem disse que a serenidade e a paz chegarão beijando-nos as mãos? Trata-se antes de tudo de uma conquista íntima que exige disciplina e autodeterminação.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

"A União faz a força"



O machismo quer nos fazer crer que as mulheres são falsas amigas, inimigas que rivalizam entre si competindo por status e poder, tudo para nos entorpecer!
Como se já não bastassem os alienantes paradigmas de feminilidade, a beleza alheia, ou o bom caráter não é “permitido” admirar ou qualquer sorte de elogio tecer, sobre pena de ser rotulada de lésbica ou bissexual (não que ajam nessas escolhas algo de mal), o perverso é a intrínseca noção, que nos submete a lógica de tão estúpido padrão.
Precisamos ficar atentas, discernir e perceber, a velha máxima já nos avisa da usual tática: “dividir para enfraquecer”. Unidas somos muito mais fortes, é preciso ir adiante, então sigamos avante para esse tão lamentável cenário conseguirmos transcender, por mim, por você, pelas que virão nesse mundo conviver!



quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

As Paixões da Alma



"As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das maiores virtudes".

Art.148. O exercício da virtude é um excelente remédio contra as paixões.
Se bem que essas emoções inferiores nos atinjam mais de perto e possuam, consequentemente, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, uma vez que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que provêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la; mas antes servem para aumentar a sua alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por eles ofendida,  conhece com isso sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha por que estar contente, necessita somente seguir estritamente a virtude. Pois, quem quer que tenha vivido de tal forma que sua consciência não possa censurá-lo de jamais haver deixado de fazer todas as coisas que reputou serem as melhores (que é o que denomino aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão intensa para torná-lo feliz que os mais veementes esforços da paixão jamais têm poder suficiente para perturbar a tranquilidade de sua alma.

Art.152. Por que motivo podemos estimar-nos.
Posto que uma das principais partes da sabedoria é saber de que maneira e por que motivo cada pessoa deve estimar-se ou desprezar-se, exporei aqui minha opinião. Percebo em nós somente uma coisa que possa nos fornecer a justa razão de nos estimarmos, que é a utilização de nosso livre-arbítrio e o domínio que possuímos sobre as nossas vontades; pois é apenas pelas ações que dependem desse livre-arbítrio que podemos com razão ser elogiados ou reprovados, e ele nos torna de algum modo semelhantes a Deus, fazendo-nos senhores de nós mesmos, desde que não abdiquemos, por covardia, dos direitos que ele nos outorga.
[...] Se evito exprimir meu juízo a respeito de uma coisa, quando não a concebo com bastante clareza e distinção, é evidente que o emprego muito bem e que não estou equivocado; porém, se decido negá-la ou afirmá-la, então não emprego como devo meu livre-arbítrio; se garanto o que não é verdadeiro, é evidente que me equivoco, e mesmo que julgue de acordo com a verdade, isto não acontece, a não ser por acaso e eu não deixo de errar e de empregar mal meu livre-arbítrio; pois a razão nos ensina que o conhecimento do entendimento deve sempre vir antes da determinação da vontade.
Descartes em As Paixões da Alma


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Esperançar



Esperança no recomeço,
Que vem do lado inverso do avesso,
Esperança que sempre se renova,
E vigora a toda prova.

Esperança de “eus” melhores no meu amanhã,
Mais livre, mais sábia, mais sã.
Esperança de maior harmonia e delicadeza,
Esperança de olhar mais suave e verdade sem rudeza.

Esperança de viver ainda melhor e em paz,
Esperança de evitar os males a mais,
Esperança de ter força e coragem sem vaidade,
Esperança de ter mais fé e me tornar uma grande mulher.

Esperança de romper com as amarras,
E não ter grilhões,
Esperança de ser inteiramente livre,
E respirar o ar a plenos pulmões.





segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Vã tirania



Minha inocência com prudência
Vai pedindo permissão
Para dizer a esse mundo,
Que posso até parecer,
 Mas não sou boba não.

Me arrependo do arremedo,
De ter medo do vão,
Minha crença na descrença,
Virou indecisão.

No silêncio taciturno,
Desse vento noturno,
Me cubro e descubro,
Desviro e não durmo.

Minha inocência com prudência
Vai abrindo meu chão,
Rompe um grito maldito,
Diante da vã tirania,
Apenas oferto meu não.



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Filhos



Esquecendo do livre-arbítrio do qual os seus filhos também são dotados, a pergunta mais dolorosa que os pais podem se fazer  é “onde foi que eu errei?”, ao verem seus filhos “alienados”, caminhando por caminhos “tortuosos”, muitas vezes fora da lei.
Essa situação é fonte de grande inquietação e sofrimento e quando despontam os momentos de dificuldade, entre os poucos amigos de verdade, são eles que estarão sempre juntos afinal, auxiliando e fortalecendo os seus rebentos a despeito do “bem” ou do “mal”.
Talvez fosse preciso lhes assegurar que boas árvores também dão “maus” frutos, para abandonarem a culpa habitual que tanto os corrói, mas isso soaria como um grande insulto que ainda mais dói. 

De todo modo, dignidade e bom caráter não podem ser desacreditados como se fossem conceitos obsoletos e a educação apesar de não ser uma total garantia é sim significativo elemento de prevenção.


domingo, 9 de novembro de 2014

Uso, abuso, dependência



Dizer a juventude que as drogas só fazem mal é antes de tudo lhes subestimar a inteligência, uma vez que tanto lícitas como ilícitas tais substâncias só são capazes de gerar adictos pelo fato de produzirem sensações prazerosas, de alívio, de excitação, de relaxamento em curto prazo ou de modo imediato, além de servirem como veículo de socialização seja para se enturmar, para parecer mais autoconfiante ou simplesmente fazer charme entre tantos outros motivos possíveis.
O modo mais coerente de tratar sobre o tema não parece ser a partir do prisma da demonização das substâncias ou dos usuários, em uma análise estreita que isola os fenômenos sócio-culturais, psicológicos e biológicos envolvidos.
Buscar compreender esse fenômeno de maneira mais ampla, não discriminatória e preconceituosa (possível) é sem dúvidas o ideal. Se atendo as drogas lícitas como álcool e cigarro, por exemplo, cujo acesso é simples e fácil uma vez que a lei de venda para maiores de dezoito anos ainda que exista raramente é respeitada, é preciso ponderar que o uso em si não implica em dependência, necessitando correlacionar-se a frequência e intensidade no espaço temporal para que tal vinculação aconteça.
A partir dessa ponderação, verificamos em países como o Brasil diante de diversas pesquisas, especialmente as oriundas da Organização Mundial de Saúde (OMS) que tem sido cada vez mais precoce o início e frequente o uso (em termo de vezes) de tais substâncias, o que ai sim abre campo para a dependência.
Apesar de no início desse ano a OMS divulgar queda da parcela de fumantes de 2006 com 15,7% para 11,3% em 2013, ainda é grande o número de usuários cujo maior índice 75% na América Latina, por exemplo, começou a fumar entre 14 e 17 anos, com estimativa de 50% de esses virem a se tornar dependentes.
Em tempos de redução de danos, em uma sociedade que desde os tempos mais longínquos fez uso de substâncias alucinógenas, diante do apelo fácil que a nicotina faz estimulando a dopamina ou o álcool o sistema GABA e bem como os demais e seus variados apelos, parece mesmo que a grande demanda é absorver criticamente todo esse conhecimento produzido voltando o olhar para o humano e a natureza das relações que este estabelece com as substâncias e sua representação, não apenas com toda sorte de drogas, mas com qualquer relação que lhe traga dependência (chocolate, pessoas, compras...).
Como bem disse Antônio NeryAs drogas são produtos químicos sem alma, não falam, não pensam, não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes”. Voltemos então nossos olhos para esse ser a fim de compreender suas razões, limites e possibilidades dentro da sua realidade,sem esquecer o enquadre social, lembrando que para quem quer abandonar essas muletas há desafios e dificuldades, mas todas possíveis de serem superadas desde que existam real suporte e auxílio, além de claro força de vontade.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Encanto



Tuas pupilas,
Negras meninas,
Duas estrelas
A iluminar.

Faróis,
Embaçam minha visão,
Tamanho clarão,
Sou nau em mar aberto,
Prestes a naufragar.

Em meio ao ondear revolto,
Eu solto, salto,
Para em ti aportar,
Teimosamente me ancoro,
Onde todos cismam em se afogar.




segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Rendição



O tempo que passo distante do mar,
É vida não vivida,
Como do amor, um mal amar.

Na duração do momento que se espraia,
Tudo é em vão no vão das horas,
Em que não tenho meus pés na praia.


Aquarela


Respinga a tinta no papel,
Ganha a tela,
Pintura de aquarela,
Nobre e bela.

Do céu do seu olhar,
Frutífera horta,
Tudo nasci, tudo brota.

Feita para encantar,
Eis me aqui,
Refém por te amar.

Tem o azul do céu,
E o verde do mar,
Toda imensidão
Está no seu olhar.


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Educações no Brasil



Falar sobre educação em países como o Brasil nos fomenta reflexões das mais variadas ordens, se pensarmos no paradigma educação pública versus educação privada, logo constatamos o quadro de precarização do sistema educacional público brasileiro, o que não é de modo algum novidade para a sociedade, sendo especialmente agravado na região norte e nordeste. Contudo, engana-se quem pensa que apenas a rede pública goza de tão infeliz status, a rede privada também padece, entretanto, por outra via, onde se o ensino público é de modo geral essa falência declarada, o privado ao oferecer uma formação voltada exclusivamente para a meta de formar vestibulandos aptos a ingressar nas universidades federais e estaduais também reduz muito o real potencial formativo que deve ter a educação.

Reconhecendo sua dimensão política como bem diria Freire, a educação em parceria e continuidade à família deve ser capaz de formar não apenas bons vestibulandos, mas cidadãos críticos e conscientes. Com valores muito aquém do ideal preconizado pelo  Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), de modo geral, quando observada às diferenças entre rede pública e privada, constata-se o óbvio, de que há educações distintas sendo desenvolvidas em território nacional, onde tais diferenças servem apenas como elemento excludente e marginalizador no sentido stricto da palavra. Sendo assim, ainda que se aponte avanços, resta a certeza de que existe muito que caminhar numa  oferta de formação que faça jus ao termo Educação.

Essa formação passa por uma mudança radical na concepção literalmente medieval de transmissão de ensino, de educação que até hoje vige em nossa sociedade, a qual contraditoriamente vivencia a era da informação e do conhecimento. É preciso repensar e reconstruir lugares e papéis nesse novo cenário, onde o estudante não é mais o mesmo, o professor e a escola também não podem ser, como bem disse Viviane Mosé: “Não  é mais possível que a educação se resuma a administrar conteúdo, tem que ser desenvolver raciocínio, análise e interpretação de dados... É preciso criar e não repetir”.
Quando tivermos alcançado esse nível, certamente teremos maior espaço para arte, filosofia, tecnologia com integração ao meio-ambiente, a cidadania transversalizada nos conteúdos, além da inclusão de noções fundamentais de áreas de conhecimento como psicologia, direito público, entre outros, uma vez que se trata de uma negligência aterradora não ofertar aos estudantes em formação desde a tenra idade o contato mais articulado com todo esse conhecimento já produzido e que está em permanente construção, implicando-os como atores que integram esse processo e também podem não apenas construir mais desconstruir paradigmas quando obsoletos. 

É preciso colocar os indivíduos em formação em contato com os ditames sobre os quais se edificam não apenas o seu país de modo político-econômico-cultural, mas a sociedade global na qual ele se encontra inserido, além de estabelecer contato com o saber sobre o comportamento humano do ponto de vista subjetivo e social, entre outros aspectos, dotando-os de familiaridade com dimensões de valor e importância fundamentais em uma sociedade que se pretende democrática.

O que temos por tanto na atualidade ainda é um projeto de educação que não saiu efetivamente do papel, mesmo possuindo uma Lei de Diretrizes e Bases (LDB) robusta, o que temos até o momento é uma educação que está redundantemente por se educar/politizar no sentido rico do termo para poder cumprir o seu real papel. Certamente cada cidadão possui a sua parcela de responsabilidade nessa construção que não se dará se não com as nossas ações e força articulada reivindicando o que é legítimo e se faz urgente, uma educação formativa emancipada e emancipatória.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Paz pela Paz


Seria muito bom e cômodo acreditar que a paz chegará como uma brisa fresca a nos acarinhar, talvez na mudança de estação, em um dia de chuva ou solar, mas tal crença é bastante pueril, se assemelhando a reivindicar uma conquista sem antes por ela batalhar.
Assim, chegamos à constatação de que a luta é justa, mas árdua e de que jamais coube ou caberão armas e guerras que covardemente em defesa dela se intitulam apenas para gerar mais violência .
Não deve ser surpresa afirmar que a paz começa em mim, começa em ti, começa em nós, por mais clichê que isso possa parecer... É nas minúcias do cotidiano que somos convidados a renovar os votos de pacificação sem confundi-los com a passividade.
Se bem nos observarmos perceberemos inúmeros pensamentos, emoções e atos de irrefletida agressividade e violência, é preciso deles tomar ciência a fim de os transformar, dando menos valor ao egoísmo e ao orgulho que tanto nos impedem de melhor conviver e viver a verdadeira potência em essência do ser que é amar.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Entre o ideal e a prática


Nas escolas desde o ensino básico ao universitário, nos hospitais e nas prisões, instituições que no campo legal são amparadas por leis como a Lei de Diretrizes e Bases, Lei orgânica da Saúde e Lei de Execução Penal respectivamente, é lugar comum se perceber a distância abissal entre “teoria e prática” e nesses contextos tem se tornado cada vez mais uma espécie de chavão que muitos profissionais repetem ao infinito sempre dizendo o quanto “é complexo”, o quanto “é difícil”, o quanto “é limitado” e praticamente intransponível essa distância.
Pois bem, sem pretender negar a dimensão macro, de cunho político-econômico-social que faz com que vivamos nesse estado de coisas, pode-se dizer sem receio de incorrer em leviandade que todas as pessoas das quais se costuma ouvir tal espécie de discurso não fazem no limite de suas possibilidades um milésimo do que poderiam fazer para contribuir na transformação desse cenário, fazendo antes desse discurso do “muito complexo”, “muito difícil”, motivo, pretexto, desculpa para não arregaçar as mangas e ir à luta nas suas práticas cotidianas em tais espaços nas minúcias que muitas vezes dependem apenas de sensibilidade e motivação.
Desacreditados, desesperançados, mal remunerados, tudo parece contribuir para o pacto de mediocridade que vige, o que não apenas é lamentável, como grave. O desafio parece ser não perder de vista a grande conjuntura, mas ao mesmo tempo não a utilizar para se permitir a isenção da parte que cabe a cada um de nós nessa mudança de direção, é preciso mudar o macro, contudo não é menos necessário mudar o modo de agir no micro até porque talvez o todo apenas esteja refletindo as mínimas partes que o constituem, se cada um fizer a sua parte essa nação entra definitivamente na rota do progresso, para se tornar verdadeiramente um país de todos.

domingo, 21 de setembro de 2014

Reeducação integral


Comumente fazemos dietas, regimes, reeducação alimentar a fim de promover a saúde, combater ou atenuar as doenças, além de claro, erradicar ao menos em determinado aspecto as habituais preocupações estéticas. Quem diminui o sal logo consegue abaixar o alto nível da pressão, quem corta fritura e alimentos ricos em gordura de má qualidade e introduz os de boa conseguem a um só tempo reduzir o LDL e aumentar o HDL, o mesmo se segue em tantos outros aspectos que são impactados na mudança de alimentação.

Mas e se essa determinação por mudança, por melhoria, por transformação não se restringisse à área alimentar no sentido estrito do termo? E se passássemos a limpo o que temos servido de informações como alimento para o nosso cérebro, não apenas com o que entra mais com o que é produzido e depois "sai" buscando observar a qualidade dos nossos pensamentos checando com o que estamos ocupando tempo e voltando a nossa atenção?

Se buscássemos também reduzir os excessos das palavras, das conversações fúteis/inúteis, do palavrório vazio e tantas vezes insensato e leviano? Se mudássemos certas atitudes arraigadas que possuem caráter disfuncional e implantássemos novos hábitos? Bem se buscarmos agir assim com esse auto comprometimento certamente perceberemos que a reeducação necessita ser percebida de maneira ampla, incluindo modos de comportamento, no falar, no pensar... A fim de conquistarmos uma saúde verdadeiramente integral o bom alimento necessita ser físico, psíquico e espiritual. 

Não percamos mais tempo com tolas distrações, a tarefa é árdua e contínua, que tal começar agora com os novos ares da primavera a nos inspirar? "Mutatis Mutandis" mudando o que precisa ser mudado com o primeiro passo desde já!

sábado, 13 de setembro de 2014

Renovação


O antigo e sábio aforismo desde muito nos aconselha “conhece-te a ti mesmo”, de modo que possa caminhar com passos firmes rumo à construção do destino que aspiras, sem que te permitas ser mero barco a vela que é lançado ao sabor das ventanias, no pulular das circunstâncias.
Segue com retidão honrando os compromissos que adquires, renova o íntimo e não teima nem te acovardes diante dos esforços que se fazem necessários para sua transformação, de tempos em tempos analisa o roteiro para ver se desvirtuas ou segues na exata direção.
Não te afastes da disciplina e busca sempre o teu íntimo renovar, filtra os pensamentos, educa os sentimentos para que deles não te possas escravizar. Ergue a fonte, olha o horizonte que então buscas desbravar e caminha com coragem, mesmo em meio à tempestade lembra que o sol sempre volta a brilhar.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dos Desejos: prazer e dor.




Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas.

 Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem. Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.

Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita. Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de urna mesa farta que tomam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.

De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.

Epicuro em Carta sobre a felicidade (a Meneceu).
   * Obra de fácil localização na internet, tão breve como profundo.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Pensar ou não pensar? Eis a questão!





Vivemos em uma sociedade que de modo global “oferece” aos indivíduos uma gama de preconceitos no sentido mais específico do termo que é de conceitos preconcebidos, os quais foram e continuam incessantemente a serem (re) construídos através de uma trama complexa de fatores que possuem valor adaptativo ou não a depender do contexto em que se originam e perpetuam, possuindo nessa construção desde a influência histórico-cultural na quase “determinação” de nossos juízos de valores até uma economia de esforço neurocognitivo o qual se dá por ser mais "fácil" reproduzir do que questionar, modos de ser, existir e pensar, construindo, portanto lentes sobre as quais buscamos enxergar e ler o mundo.
A sociedade ocidental dentro do paradigma do capitalismo e a sua consequente ética normativa tem conseguido nortear a conduta moral estabelecendo determinados padrões, através da oferta de uma gama incontável de construções falaciosas que por um “automatismo” reproduzimos irrefletidamente, tamanho o status naturalizador em que se encontram. No Brasil possui é claro as suas características peculiares como em todos os demais países, mesclando-se sempre à realidade conjuntural de cada local.
Se nos tornamos capazes de identificar esses clichês mentais que foram construídos socialmente ao longo de gerações como se fossem sistemas coerentes ainda que não passem de sofismas e o refutarmos segundo a racionalidade, nos tornaremos capazes de efetivamente pensar com a própria cabeça e alcançar certo nível de autonomia que a maioria por um paralogismo parece ainda se quer suspeitar, seguindo suas vidas atreladas a construções completamente alienadas do que se pode chamar de lógico, coerente e até mesmo verdadeiro, ainda que se deva ponderar e reconhecer a relatividade da verdade.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Guerras


Quanto sangue já foi derramado, quanto ainda será nessa expressão máxima de banalização da vida que são as guerras? Que estranha capacidade para estupidez (com o perdão da palavra) é essa a nossa? Sim, porque temos todos nós temos um quinhão de responsabilidade, afinal, é ledo engano pensar que toda essa violência começa com bombas, tanques e fuzis, é antes nas minúcias do cotidiano, nas fronteiras que erguemos e nos digladiamos que nasce os grandes confrontos de estado para estado, de país para país.
As guerras não se sustentam apenas com os seus líderes é preciso um exército apito a seguir suas ideologias, adotando suas diretrizes e nem se manteriam se não houvesse uma indústria bélica para alimentá-la a qual desde sempre, independente do sistema econômico, esteve descolada de qualquer comprometimento ético que preconize a vida, visando apenas lucrar e lucrar... Quanto tempo mais ainda iremos levar??? 
"Sei que a paz é mais difícil  que a guerra"
Kubitschek

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Período eleitoral




Quem dera que nesse período as cidades recebessem um banho de intervenções que conclamassem os cidadãos para o amplo debate político, de modo a pensar as demandas sociais e possíveis meios para a sua efetiva resolução, mas, nesta época de eleições ganham mesmo é um banho de poluição, sonora, visual, intelectual e o pior de enxovalhamento do que deveria ser exemplo de exercício democrático... Nos muros, pinturas e adesivos com propagandas políticas brigam por espaços, jardins públicos, morros, prédios e casas ganham placas e faixas, locais são alugados e viram cedes de comitês, cabos eleitorais são contratados, santinhos distribuídos... Nas diversas mídias multiplicam-se propagandas, carros de sons são espalhados pelas cidades, repetindo até exaustão dingos que pretendem fixar os números dos candidatos em nossas mentes pela repetição. Quanto dinheiro desperdiçado, gasto em vão!!

Com a chegada do horário eleitoral, constatamos mais uma vez a realidade do ditado que sabiamente diz: "Seria cômico, se não fosse trágico", tem-se a impressão de que os indivíduos mais incapazes sentem-se aptos a se candidatar, na maioria das vezes o que se vê são pessoas sem o menor preparo intelecto moral, diante de uma câmera a ler mensagens patéticas, tentando soarem íntimos dos eleitores utilizando-se de apelidos ou adjetivações infantis.

Em 2010 segundo a Confederação Nacional dos municípios, foram eleitos exatos 57,434 vereadores em todo o país, com relação aos prefeitos, o Senso 2010 revela que existem 5,564,00 municípios, e agora em 2014 serão eleitos não só um (a) presidente da república, como governadores dos estados, deputados federais, estaduais e distritais, o que significa que estará sendo formado um verdadeiro exército com poder legislativo, executivo e idealmente fiscalizador

Durante o período de atividades politicas, o dispêndio do dinheiro público  chega a quantias exorbitantes, as quais muitas vezes são desviadas do seu real e necessário destino pela politicagem acabando por escoar pelos ralos da corrupção.  Assim, o funcionamento do aparelho público segue deficitário, perpetuando esse "modus operandi", em grande parte, este quadro deve-se ao fato de que infelizmente serão poucos eleitos em ambas as esferas realmente preparados e comprometidos com a séria demanda do país.

A corrupção é esse câncer instaurado, aos quais projetos como ficha limpa ganha status de quimioterápicos, entretanto, a jornada é longa e árdua, porque a demanda por transformação é imensa, ainda estamos muito aquém do necessário e ainda mais, do ideal.  Não se trata de fazer par com o pessimismo, existem sim sujeitos éticos, comprometidos com os interesses sociais, engajados pela construção de um país e de um mundo melhor, buscando fazer no micro, até o impactar no macro, existem políticos honestos, entretanto, ainda são minoria que confirma a regra instaurada, geradora da triste cultura do jeitinho brasileiro que nos rende o título de país da corrupção e consequentemente essa profunda descrença social na política como via importante de transformação.




O Brasil pretende chegar ao índice 6 de Desenvolvimento Básico da Educação em 2021, quando países desenvolvidos já o alcançaram em 2006, o que é profundamente lamentável porque a mudança de consciência que levará este país para frente, essa transformação só será possível acontecer se tiver como aliada fundamental uma educação realmente de qualidade, alicerçada em uma dupla dimensão, tanto cívica como moral, sendo  capaz de contribuir na formação de cidadãos críticos e éticos.

Não devemos é claro perder a esperança, apesar da vergonha desse quadro, com real querer, comprometimento e uma certa dose de indignação é sempre possível mudar. Comecemos por nós mesmos antes de cobrarmos do governo, os políticos saem do seio de nossas famílias! Analisemos nossos atos cotidianos a fim de averiguar se também não cometemos pequenas corrupções no dia-a-dia, em busca de vantagens. Tenhamos consciência do valor do nosso voto, afinal não se vota em ninguém por camaradagem ou por qualquer sorte de benefício pessoal futuro. 

Avaliemos os candidatos com discernimento e independente de ser ele o eleito ou não, quem ganhar a eleição estará nos representando, portanto, devemos acompanhar o mais que possível o seu mandato. Exerçamos a nossa cidadania plenamente, ciente de que um cidadão é senhor de direitos mas também de deveres, certos de que o bem estar pessoal é indissociável do bem estar comum.

Pode parecer idealismo utópico, em uma nação com milhões de analfabetos completos ou funcionais, onde ainda há tanta pobreza e miséria e a política que impera é de assistencialismo, entretanto, não é disso que se trata, afinal, ninguém afirmou que a mudança seria fácil ou para amanhã. O Brasil é uma nação rica, múltipla, com vasto potencial, tenhamos a certeza de que os passos iniciais já estão sendo dados e precisam cada vez  mais estar alicerçados em real comprometimento e consciência crítica para que haja uma renovação política e social, findando a era da politicagem para que esse país seja realmente justo, de todos!


domingo, 10 de agosto de 2014

Dia dos pais



Pai,

É você que me gerou,
É você que me adotou,
É você que me herdou,
É você que me ensinou,
Força, coragem, dignidade e amor.


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Insurreição


Chaves, pontes, cadeados,
Abre a tranca, tece o plano,
E engendra o dia,
Entre perdidos e achados.

Vai a galope,
Feito cavalo alado,
Cela a tua guia,
Faz dela o teu arado.

Ganha o mundo,
Renova o íntimo,
Esquece o teu passado,
Vê bem quem irá ao teu lado.



sexta-feira, 11 de julho de 2014

Súplica


Hoje quero cantar o amor,
E bem dizer os sonhos do sonhador,
E os olhos que brilham ternos de doçura e pureza.
Hoje quero reter da humana natureza,
A sua força, a sua luz, a sua nobreza.

Hoje quero ser apenas pássaro de asas largas,
Que voa livre na amplidão.
Hoje quero da vida a sua face leve e colorida,
O seu translúcido matiz,
Em cada espirar transbordar inspiração,
Aspirando ser feliz.

Hoje não quero do homem
A sua penumbra, nem sua fraqueza,
Mas se ela se revelar,
Até mesmo ai, quero encontrar beleza.