terça-feira, 13 de maio de 2014

Da Sociedade



Se nos voltarmos para as restrições que só se aplicam a certas classes da sociedade, encontraremos um estado de coisas que é flagrante e que sempre foi reconhecido. É de esperar que essas classes subprivilegiadas invejem os privilégios das favorecidas e façam tudo o que podem para se libertarem do seu próprio excesso de privação. Onde isso não for possível, uma permanente parcela de descontentamento persistirá dentro da cultura interessada, o que pode conduzir a perigosas revoltas.
 Se, porém, uma cultura não foi além do ponto em que a satisfação de uma parte de seus participantes depende da opressão da outra parte, talvez maior - este é o caso em todas as culturas atuais-, é compreensível que as pessoas assim oprimidas desenvolvam uma intensa hostilidade para com uma cultura cuja existência elas tornam possível pelo seu trabalho, mas de cuja riqueza não possuem mais do que uma quota mínima.
Em tais condições, não é de esperar uma internalização das proibições culturais entre as pessoas oprimidas. Pelo contrário, elas não estão preparadas para reconhecer essas proibições, têm a intenção de destruir a própria cultura e se possível, até mesmo aniquilar os postulados em que se baseia. A hostilidade dessas classes para com a civilização é tão evidente, que provocou a mais latente hostilidade dos estratos sociais mais passíveis de serem desprezados. Não é preciso dizer que uma civilização que deixa insatisfeito um número tão grande de seus participantes e os impulsiona a revolta, não tem nem merece a perspectiva de uma existência duradoura.

Freud, em O Futuro de uma ilusão, Vol. XXI (1927).

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Dia do Trabalhador



A luta pela diminuição da carga horária de trabalho vem de longínqua data, desde o século XIX já havia manifestações em prol da redução de 16 para 8 horas... Certamente essa entre outras conquistas daí advindas foram salutares, que diga o Brasil no século XX com a aprovação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), apesar disso, há muito que se conquistar.
Ainda temos um vasto proletariado desassistido em seus direitos fundamentais (educação, saúde, moradia), obrigados a sobreviver com um salário de fome, em um sistema onde em nome do capitalismo selvagem vige a lógica da mais valia, além de ainda termos incontáveis trabalhadores que se encontram na penumbra da informalidade ou em terríveis condições análogas ou de flagrante escravidão.
1º de Maio é um marco histórico que deve ser comemorado não como uma luta que diz respeito apenas às conquistas do passado, mas como um paradigma que necessita a tempo todo ser ratificado em seu valor e renovado em sua missão frente às novas demandas que se apresentam em uma era de sociedade globalizada. Os desafios continuam exigindo consciência crítica  e engajamento para a conquista de  melhores condições de trabalho que enxerguem a humanidade do trabalhador sem lhe reduzir à continuidade de uma máquina. 
Por uma carga horária que não lhe retire a possibilidade de vivenciar plenamente a um só tempo outras dimensões de sua vida como educação continuada, esporte, lazer, entre outros, sem postergação de realizações íntimas projetadas para um futuro  de aposentadoria que não se pode afirmar ao certo que virá... Por um trabalho que não ocupe o papel de centralidade na vida, mas sim o de um entre outros elementos fundamentais à existência é que podemos ter certeza de que caminhamos mas ainda  há muito para caminhar.