segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Instantes













Há loucuras que não se deve curar,
Aquelas que te dão asas para voar,
E que evitam que o barco venha a naufragar.

Há limites que foram feitos para se ultrapassar,
Aqueles que rompem barreiras,
E te desvendam as paisagens de um novo lugar.

Há emoções que não se deve temer sentir,
Aquelas que pulsam lancinantes,
Que ardem inflames do início ao fim.

Há instantes que não se devem derrogar, 
Tempos infindáveis em que um átimo de segundos,
Vale como eras na história por tanto nos ensinar.

Há vidas que não se pode evitar viver,
Aquelas que alegram que enobrecem,
Que transcendem o ser!



domingo, 4 de outubro de 2015

Resposta


Depois da resposta que recebi,
Já não poderia responder mais nada,
Fiquei assim, trinco sem tranca, abismada.

Depois das portas que abri,
Já não poderia caber em si,
Qualquer saída imaginada.

Depois das andanças em que me perdi,
Era eu, o começo do fim,
Ou o fim do começo, dessa longa estrada?

Depois da resposta que recebi,
A tarefa de cair em si,
Já não poderia ser adiada.

E foi então que percebi,
Que a vida estava em mim,
Inteiramente amalgamada!





segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Desnudar



Não me interessa a segurança das terras conquistadas,
Tudo que aprendi até aqui é quase nada,
Se os pés algum dia tiveram raízes, 
Hoje os braços são asas largas.

Tenho uma sede voraz de beber o mundo,
Meu inspirar aspira o profundo,
E me faço cega, surda e muda,
Ao que não quero ver ou escutar,
Ao que seria o desperdício da palavra,
No simples ato de falar.

Só me interessa Ser no estar de cada instante,
Inteiramente entregue, presente, constante.
Aos que se aprisionam nas trilhas atravessadas:
Quero o desbravar de novas caminhadas,
E a paz de estar junto à vida conciliada.

Deixo tudo, levo nada!



terça-feira, 8 de setembro de 2015

Eclipse




Sou a brisa suave que veio te afagar,
O abraço sincero que vem de além mar,
Sou a estrela que brilha para te iluminar,

Uma cigana,
Uma sereia,
A fada boa,
A bruxa má.

Sou o anjo que abandonou as asas,
Quando a seta inverteu a direção,
E em escândalo,
O cúpido derradeiro atingiu o coração.

Sou quem te entrega o oceano para navegar,
O mergulho profundo,
Que te desvenda os mistérios do mar.

Sou o sol que nasce para te aquecer,
A chuva que cai para te embalar,
Nos sonhos que só comigo poderás ter
E irás sonhar.

Sou a poesia que aspira os poetas,
Dos músicos a inspiração,
A rima certa na incontida métrica,
Que clama teu nome em cada canção.

Sou o toque do orvalho na pétala da flor,
A te revelar nas coisas simples da vida,
A grandeza do meu amor.



sexta-feira, 24 de julho de 2015

Tudo o que você pensa saber sobre adicção é errado.





Quase tudo o que pensamos saber sobre o vício está errado e se começarmos a absorver as novas provas sobre ele, acredito que nós vamos ter que mudar muito mais do que as nossas políticas de drogas.

Imagine que três vezes ao dia durante vinte dias você fizesse uso de heroína. O que aconteceria? Temos uma história sobre o que iria acontecer que nos foi dito por um século. Nós pensamos que porque existem ganchos químicos em heroína, seu corpo se tornaria dependente e você começaria a precisar deles fisicamente e no final desses 20 dias, você teria se tornado um viciado em heroína. Certo? Isso foi o que eu pensei. Mas e quando as pessoas ficam hospitalizadas por um longo período fazendo uso de diamorfina que é heroína em estado puro, por que quando recebem alta não se tornam dependentes?

O professor de psicologia em Vancouver Bruce Alexander realizou um experimento que realmente nos ajuda a entender esta questão. Ele colocou um camundongo em uma gaiola com duas fontes de água, uma em estado puro, outra misturada com heroína ou cocaína e o animal quase sempre preferiu a água alterada vindo a morrer rapidamente.

Mas o pesquisador observou que colocou o animal em uma gaiola vazia sem nada para fazer exceto usar drogas e se propôs a fazer algo diferente: construiu uma gaiola que nomeou “parque de rato” onde eles tinham queijo, um monte de bolas coloridas, túneis, um monte de amigos e sexo.

Nessa gaiola os camundongos também foram expostos a ambas fontes de água (normal e drogada), mas aqui o resultado é fascinante: no “parque de ratos”  eles não gostam da água com  drogas, eles quase nunca a usam, nenhum deles jamais a usou compulsivamente, nenhum deles jamais  teve overdose. Você vai de quase 100% de overdose quando eles estão isolados para 0% de overdose quando têm vidas felizes e conectadas.

Tais resultados se repetiram quando observados os retornos dos soldados da guerra do Vietnan de cuja tropa, 20% fazia uso de heroína. Tais soldados acompanhados nos retornos aos seus lares e desses, 95% sem passar por nenhuma espécie de reabilitação, simplesmente parou o uso, não se tornaram adictos.

Nesse contexto o pesquisador questiona-se: e se o vício não for causado pelas conexões químicas que ocorrem durante o uso prolongado da substância? E se o vício for uma resposta adaptativa ao meio ambiente?

O professor Peter Cohen na Holanda propõe que talvez não devêssemos chamar vício e sim ligação. Os seres humanos têm uma necessidade natural e inata de ligação e quando estamos felizes e saudáveis, nós vamos ligar e se conectar uns com os outros, mas se você não pode fazer isso, porque você está traumatizado ou isolado, ou abatido por vida, você vai se relacionar com algo que vai lhe dar alguma sensação de alívio. Agora, isso pode ser o jogo, a pornografia, a cocaína ou a maconha, mas você vai se relacionar e se conectar com alguma coisa, porque essa é a nossa natureza, isso é o que queremos como seres humanos.

Uma parte essencial da dependência diz respeito sobre o dependente não ser capaz de suportar estar presente em sua própria vida e ao invés de ofertar um suporte à eles, nós os punimos, envergonhamos e lhes damos registros criminais, colocamos barreiras para que eles possam se reconectar e o que devemos fazer é justamente o oposto, a mensagem a ser passada é:  você não está sozinho, nós amamos você.

Esse modo de resposta deve se dá em todos os níveis: social, político e individualmente.  Por 100 anos estivemos cantando canções de guerra sobre viciados, penso que ao longo desse tempo deveríamos ter cantado canções de amor para eles, porque o oposto do vício não é a sobriedade, o oposto do vício é conexão. 



segunda-feira, 6 de julho de 2015

O Amor


Chega de mansinho, terno e delicado fazendo carinho para encantar, feito brisa fresca que afaga a pele na varanda em alta noite de luar.

Vem como uma onda forte e mansa que a todos nós ronda, bate na porta, mas só entra se o convidar. 

Multicolorido, multifacetado, eis o amor multiplicado só para iluminar.

Se apresentando aos olhos de quem o queira enxergar, é como barco que encontra o cais e se lança para ancorar.

É como a presença indescritível da paz que a todos nós vem visitar, na sede infinita de fazer morada e nunca mais ter que partir pensando em nos abandonar.

É como criança brincando na roda, mãe cantando cantiga de ninar, é como pai apoiando os primeiros passos, é pássaro que se sabe livre e louva as asas que o fazem voar.

É a descoberta da liberdade e da grandeza infinita que a vida tem a ofertar, é como saciar a sede nas águas dos rios que desaguam no mar!



terça-feira, 30 de junho de 2015

Mazzeo e a mídia





Na sociedade capitalista, os meios de comunicação, em sua maioria, constituem monopólios de informação e, consequentemente, de manipulação ideológica porque veiculam sempre as "informações" sob o enfoque hegemônico das classes dominantes e, por conseguinte, da ideologia dominante, influindo e moldando negativamente a subjetividade das pessoas, dificultando a formação de uma consciência crítica em relação à própria sociedade e às suas contradições.
                                                                             
Daí é fundamental para o aprofundamento da democracia a desmonopolização da informação, ou melhor dizendo, o controle social da informação e do acesso aos meios de comunicação. No caso brasileiro, isso é notório, já que temos os meios de comunicação nas mãos de algumas famílias que autocraticamente se apropriaram da informação.

Para fazermos avançar a democratização da informação, temos que pensar em novas formas político-sociais que permitam o amplo acesso dos movimentos sociais, sindicatos, universidades e escolas públicas, etc. às rádios e TVs, assim como construir emissoras de rádio e de televisão sob controle do conjunto da sociedade. Em meu modo de entender, a democratização da informação somente será possível com uma forte e organizada pressão da sociedade.

Antonio Carlos Mazzeo


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Racismo: da alienação à consciência crítica

O Surgimento
Desenvolvida no continente africano, foi de lá que veio o primeiro hominídeo  possibilitando o florescer da raça humana, o que significa dizer que sim, a cor fundante de nossa raça era negra e tal concentração de melanina, bem como os fios dos cabelos crespos serviam como proteção à caixa craniana diante dos raios solares, sendo recursos adaptativos sem os quais provavelmente naquele tempo a espécie não teria sobrevivido.
Com o afastamento do continente africano para outras zonas do globo terrestre onde existiam temperaturas menos elevadas, a necessidade de concentração de melanina vai sendo atenuada, o que produz o embranquecimento, bem como o desencaracolamento dos cabelos e o afilamento do nariz que serve como recurso para aquecer melhor o ar num clima mais frio e umidificar o ar seco inspirado. Ou seja, as mudanças se dão sempre como recursos que atendem a melhor adaptabilidade possível do animal humano ao seu habitat, gerando registros genéticos que originam as diferentes etnias.
Hoje em uma sociedade ainda marcadamente racista, por uma herança maldita de uma série de construções sociais anteriores (que recebem manutenção cotidiana por parte daqueles que querem manter o status quo), conseguimos utilizar tais diferenciações extremamente valiosas, como meio de opressão e hierarquização a partir de padrões equivocados e falsos pressupostos, sem a análise crítica de que são construções historicamente constituídas e que não só podem como devem ser desfeitas.

A África

Continente fértil e rico por natureza, somando hoje 54 países, não foi apenas o berço da espécie, bem como o solo  onde se desenvolveu uma das mais importantes civilizações antigas, a egípcia, a qual, ao contrário do que a cinematografia notadamente norte-americana se esforçou em reproduzir como brancos ou “morenos”, era constituída por negros que foram os responsáveis pelo desenvolvimento de um complexo sistema político, econômico e sócio-cultural.

Essa civilização promoveu o desenvolvimento da escrita, agricultura, medicina, comércio, arquitetura, navegação, extração de minério, matemática entre outros aspectos que exemplificam a inegável inteligência, sofisticação e legado para todas as civilizações posteriores que esse continente ofertou e continua a ofertar.
Vale ressaltar que desde essa época já existiam diversas formas de escravatura. A história global tem sido um repetir de guerras, invasão, espoliamento e submissão de um povo ao outro sempre movido pela insânia da ganância humana. A América Latina não foi um caso de exceção. 

A Escravidão

Até onde se sabe, o Brasil foi “descoberto” por Cabral, um navegador que trazia em sua nau, entre outros, uma série de degredados, criminosos portugueses sentenciados, portadores de diversas doenças que não só abateram muitos membros da sociedade indígena, como na maioria das vezes a partir de estupros foram dando origem à miscigenação que nos é característica, e a qual posteriormente também foi "encorporado" o povo negro de modo certamente não menos violento.
E entre descobrir a rica terra do pau brasilis e fazê-la colônia de Portugal, temos todo o desenrolar da história amplamente difundida que já conhecemos, mas aqui interessa questionar: E os africanos nesse contexto?
Já existindo como perverso motor da economia mundial, a escravidão fez com que esse povo fosse trazido da África em seus mais diferentes países, arrancados de suas raízes, exilados de sua terra, cultura, família... Tendo invalidado a sua constituição hierárquica muitas vezes alicerçada em reinados e principados, o povo negro africano foi expatriado, morrendo aos milhões nas viagens de navio e quando resistindo, ao chegarem no Brasil, foram escravizados e tornados moeda de troca como mercadoria corrente.
Contudo, essa história de fato não é a de um povo impotente que foi subjugado sem batalhar ou resistir. Trazendo o seu saber ancestral, a sua sapiência, sua força foi expressa na capoeira, por exemplo, como uma das possibilidades de luta, além de incontáveis atos de resistência e enfrentamento direto e indireto que fez surgir diversos quilombos, além de investidas de revolução protagonizadas por valiosos guerreiros, homens e mulheres que podem ser sintetizados na figura de Zumbi e Zeferina os quais deixaram um imenso legado, cujo patrimônio é material e imaterial.
No avançar da história, quando foi decretada o fim da escravidão, ao invés de obter um efetivo reparo pelo holocausto que sofreram por quase quatro séculos, uma das primeiras leis a serem criadas pós decreto foi a “Lei da Vadiagem” que autorizava prender o indivíduo que estivesse “vagando” e assim sem reparação, de bolsos vazios, muitas documentações queimadas, definitivamente abandonados a própria sorte, diante de uma política estatal de embranquecimento que importava estrangeiros, tais sujeitos foram empurrados para a margem dos centros, para os sub-trabalhos, obrigados a sobreviver sem o pleno direito a cidadania, em condições de insalubridade fragrante.
Tal contexto é o fio condutor que explica a origem do que hoje se configura como as denominadas "comunidades" e sua relação esquizofrênica com o Estado que ora é ausente nos aspectos que lhe são pertinentes como educação, saúde e renda e  ora garante com prontidão a sua vergonhosa presença meramente repressiva e assassina (sem exagero algum). Sendo por tanto até os nossos dias um Estado cuja lógica de funcionamento continua perversa e racista, ratificando em incessante continuidade os pressupostos que deram origem, por exemplo, a corporações infames como a Polícia Militar na Bahia que até hoje vigem sob o mesmo paradigma constituinte.

Diferenças e desigualdades

O ser humano como ser social, constrói, assimila e transmite crenças, valores e costumes que formam esse grande arcabouço denominado de cultura, a qual acaba por constituir um conjunto ético e moral que norteia (muitas vezes dita) formas de existir e interpretar o mundo.
Na contemporaneidade, nessa cultura cuja lógica primordial é o uso, abuso e descarte, o intercruzamento de duas lógicas perversas: capitalismo e racismo, faz com que aja uma sobreposição maldita que pode ser testemunhada a olho nu e facilmente correlacionada nos dados estatísticos das mais simples pesquisas. São os negros que recebem menores salários, que estão nos trabalhos informais, que estudam menos, os que atuam nas funções socialmente subalternizadas, os que fazem uso de um sistema de saúde e educação precarizados, que estão em zonas de moradias irregulares, sem falar no mapa da violência com seus dados sanguinários.
Parafraseando Hamilton Borges (um dos lideres do Movimento Reaja, herdeiro na linhagem direta de Zumbi e Zeferina), os negros chegaram acorrentados e continuam, afinal são eles que lotam as prisões, que são mortos e enterrados em cova rasa como se suas vidas não valessem nada e isso como vimos não é gratuito é fruto de uma construção histórica.
Foram duros golpes na dignidade humana, na auto-estima, todos os elementos da cultura de um povo foram desvalorizados, tratados com sacrilégio e o efeito não podia ser dos mais perversos: a aceitação dessas crenças, uma vez que as ideologias da classe dominante foram assimiladas pela classe dominada, é como dizia Stevie Biko "A mais potente arma na mão do opressor é a mente do oprimido" e como ainda é grande essa opressão!
Nesse sentido, também é preciso lembrar Malcolm X em seu célebre discurso: "Quem te ensinou a odiar a textura do seu cabelo? Quem te ensinou a odiar a cor da sua pele a tal ponto que você se alveja para ficar mais branco. Quem te ensinou a odiar a forma do seu nariz e lábios? Quem te ensinou a odiar você mesmo da cabeça aos pés? Quem te ensinou a odiar os seus iguais? Quem te ensinou a odiar a sua raça tanto que vocês não querem estar perto uns dos outros?" Mas, isso vem mudando!

Reconhecimento

Sem dúvidas é grave a situação, contudo, não é possível cair no pessimismo porque esse em nada pode contribuir para mudança, pelo contrário... Mesmo a passos lentos, é fundamental falar das iniciativas de reparação, dos grupos de enfrentamento da sociedade civil organizada, do conhecimento da história crítica por uma juventude antenada que não compra a "história oficial" como verdade definitiva (até porque não é), e sobretudo disposta a mudar esse cenário. Afinal, se o sujeito não for capaz de pensar a sua condição também como resultado de uma construção sócio-histórica, ele se perde na rota, se descontextualiza,  culpabiliza ou se vitimiza, interiorizando essa lógica racista que perpassa a todos e requer lúcido enfrentamento.

 Mudança de Mentalidade

Temos muito que caminhar até chegarmos a ser uma sociedade onde as diferenças não impliquem em desigualdades, onde sejam ofertadas reais oportunidades de cidadania a todos e o movimento de auto-afirmação, luta, denúncia, enfrentamento e resistência com posicionamento crítico, além da fomentação imprescindível da auto-estima, vem certamente crescendo a olhos vistos nessa direção de modo a engendrar mudanças no Estado e na sociedade. 
Apesar do protagonismo ser de quem tem na pele e na consciência a chaga histórica que necessita cicatrizar, essa discussão não é apenas dos negros, é também dos pardos, brancos e porque não dizer dos indígenas, ora, é de todos que querem uma sociedade melhor! E os brancos em especial tem muito que falar, quando conscientes da origem e do que representa essa condição de privilégio, nenhuma mentalidade  com pensamento coerente, racional, pode querer que tudo permaneça no estado de coisas em que está, essa condição de privilégio também é muito vergonhosa.
Quando houver proporcionalidade sem estranhamento por parte de quem está sendo atendido no hospital de médicos negros, pardos e brancos, bem como na figura por exemplo de juízes e em outras instâncias de poder, saberemos que a chaga se não cicatrizou estará em vias de cicatrizar e o Brasil se tornará um país verdadeiramente de todos, onde ninguém tenha que viver se sentindo em diáspora, precisamos dessa transformação premente aqui e no mundo e cada um de nós podemos contribuir no limite de nossas possibilidades para fazer com que esses novos tempos não se demorem a chegar!


Afinal: “Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”.
Martin Luther King

terça-feira, 2 de junho de 2015

Viajante



Não vejo graça na piada,
Que tantos cismam em contar,
Não riu na mesma roda,
Que essa gente insiste em dançar.

Minha nota é dissonante,
Não tem como encaixar,
A melodia dos ventos,
O que a brisa teima em soprar.

Faço assim o meu caminho,
Que se abre com meu próprio pisar,
Ando só, mas não sozinho,
A boa gente a me guiar.

Principio para o infinito,
Abrindo as porteiras de mim,
Entre o silêncio e o grito,
Entre o início e o fim.

Me lanço para além,
De onde as vistas podem alcançar,
Sem alardes, sem conclames,
Vou desbravando o além mar.

Não há razão de temer ir,
A cada passo dado,
O precioso ganho,
É a descoberta de si!




domingo, 26 de abril de 2015

De objeto à Sujeito




Independente do contexto, a condição mais ultrajante que o ser humano pode se colocar ou ser posto é a de objeto, nessa condição, toda a sua complexidade constituinte é negada.
Tal complexidade produz demandas sócio-ambientais, desde as mais básicas que estão na ordem da sobrevivência até as mais sofisticadas que tratam da dimensão ética e moral, política e cultural ou psicológica e emocional. Todas negligenciadas ou manipuladas dentro da relação objetal.
Sem dúvidas, a formação humanista (compreendida em sentido amplo para além do contexto acadêmico) e o autoconhecimento, são recursos fundamentais a serem desenvolvidos para que os indivíduos possam ser conscientemente sujeitos de direitos e de deveres, dotados de pensamento crítico, capazes de realizar escolhas com discernimento e lucidez, sem cair nos enlaces manipuladores da insensatez própria ou alheia.
Esse percurso a ser transcorrido significa efetivo avanço no desenvolvimento da autonomia e consequente emancipação das habituais circunstâncias que nivelam por baixo a existência humana e a sua real condição, essa trajetória convida o ser humano a ser senhor de si para sua necessária e real emancipação.


quinta-feira, 16 de abril de 2015

As Marias



Eram três belezas,
Deusas da sublime realeza,
Adoradoras do tempo,
Governadoras dos ventos.

De olhos postos para o passado,
Com olhar de lince assas profundo,
Volviam os mistérios do mundo.

Eram três Marias,
Que caminhavam lado a lado,
Brincavam com as horas, 
Soltando as eras, 
Qual veloz cavalo alado.

De olhos postos para o futuro,
Transpassavam as barreiras do muro.
Sem turvar a visão,
Reservavam a esse tempo,
A mais nobre aspiração.

De olhos postos para o presente,
Nos diziam: jamais se ausentem!
Derramavam bênçãos nessa estação,
Convocando os homens à transformação.



Da Liberdade em sociedade



Os direitos e as liberdades não são inerentes ao homem como tal... Foi a sociedade que consagrou o indivíduo e o tornou eminentemente digno de respeito. A sua emancipação progressiva não implica um enfraquecimento, mas antes uma transformação dos laços sociais... O indivíduo submete-se à sociedade, e essa submissão é a condição da sua libertação.
A liberdade consiste, para o homem, na sua libertação das forças físicas, cegas e irracionais; consegue-o opondo-lhes a grande força inteligente que é a sociedade, sob cuja proteção se acolhe. Colocando-se sob a proteção da sociedade, torna-se também ele, até certo ponto, dependente dela. Mas esta dependência é libertadora.
Constitui, pois, um erro básico acreditar que a autoridade moral e a liberdade opõem e se excluem mutuamente; uma vez que o homem só obtém a liberdade de que goza devido ao fato de ser membro da sociedade, tem de se sujeitar à autoridade moral que a existência da sociedade pressupõe. Isto não constitui um paradoxo, pois ser livre não é fazer o que nos agrada, é sermos senhores de nós mesmos.
A disciplina, no sentido do controle interior dos próprios impulsos, é uma componente essencial de todas as regras morais. A perspectiva que equipara inerentemente a disciplina a uma limitação da liberdade humana e da auto-realização do homem é errônea. Não há nenhuma forma de organização da vida que não obedeça a princípios regulares e bem definidos; o mesmo acontece em relação à vida social.
A sociedade é uma organização das relações sociais, implicando, portanto uma regulamentação do comportamento de acordo com os princípios estabelecidos, que na sociedade são obrigatoriamente as regras morais. Só a aceitação da regulamentação torna possível a vida social, permitindo ao homem colher os benefícios que a sociedade lhe faculta. 

Durkheim em Capitalismo e a Moderna Teoria Social de Anthony Giddens (p.170-171).


domingo, 29 de março de 2015

Mulheres em foco



Há muito que se conquistar para uma total emancipação da mulher, na atualidade apesar do que preconiza os direitos humanos, ainda temos cenários que apontam para uma  total subjugação feminina, chegando  as raias da clitoridectomia realizadas em alguns locais da África, no Oriente médio e no sudeste asiático, nos negando o direito  sobre o próprio corpo e qualquer possibilidade de prazer que lhe seja associado.

Corpo esse que segue sobre muitas circunstâncias sendo para muitos homens alvo e objeto de perversa manipulação, como se fossemos peças de vulgar coleção da qual querem extrair prazer irrestritamente. Assim temos o dever de sobretudo reconquistar o corpo como propriedade nossa, fora o que ainda temos por alcançar como maior espaço na política e em todos os setores da sociedade em que estamos ou iremos nos inserir.

Em meio a esse cenário, a insurgência de pessoas como a modelo somali Waris Dirie que vem denunciar a circuncisão feminina, da ativista paquistanesa Malala Yousafzai que vem a público reivindicar o direito a educação em seu país, além da presença de mulheres na presidência, em cargos ministeriais, delegadas, policiais entre tantas outras, nos dão testemunho de que estamos apesar de todos os reveses caminhando em direção ao avanço de que tanto necessitamos.

São muitas as lutas e muitas as guerreiras de longa data, professoras, enfermeiras, domésticas, mães, mulheres do lar, entretanto, já não queremos ser heroínas super dotadas com tripla jornada, queremos ao nosso lado quem possa conosco andar de cabeça erguida e mãos dadas na estrada... Temos caminhado e ainda há muito que caminhar nessa tão desejada e fundamental conquista de uma autonomia não apenas financeira, mas intelectual e emocional, total, completa, inteira! 


quarta-feira, 4 de março de 2015

Disciplina





Distante de ser uma força repressora que nos enquadre em algum comportamento idealizado, tolino a genuína expressão individual, a disciplina é uma fundamental companheira para que possamos caminhar com liberdade, realizar, transformando o ideal em realidade. Somente a partir dela é que podemos nos estruturar, organizar as demandas do cotidiano, fazer planos futuros mais maduros contando com o aprendizado até então assimilado.

Com a disciplina aprendemos que não é preciso fazer tudo a um só tempo, não é preciso exaltação, necessário é fazer um pouco a cada dia, começando pelos alicerces a fim de garantir boas bases para a construção. No cotidiano ela se desenvolve a partir da organização que busca estabelecer prioridades a fim de cumprir as demandas postas para si, sendo fundamental desenvolver o senso crítico, a capacidade de auto-análise para verificar de tempos em tempos se a direção que estamos tomando está em consonância com as nossas aspirações.

A disciplina é companheira da esperança que tanto lhe dá força, energia, fé para continuar renovando o íntimo, nos impelindo a seguir em frente, acreditando, se dedicando, se reanimando depois da luta, sem se deixar abater ou se entregar. De conduta ilibada, a disciplina é unida à verdade, por isso tem o pensamento claro, reto, lúcido, sempre baseado na sinceridade, por ser honesta não tem predileções por si, assim, não procura se poupar, agindo sempre em favor da justiça sem receio de se prejudicar. A disciplina é a chave que abre a porta para uma verdadeira liberdade, sem  a qual não se é livre e sim escravo, afinal como disse Azevedo "Liberdade sem disciplina é escravidão", assim, ela é a estrada segura por onde caminhar quando buscamos crescer rumo a uma real emancipação.




quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Carnaval: festa democrática?




Mais um carnaval em Salvador, arquibancadas e camarotes construídos, praças e patrimônios cercados para evitar depredações, iluminação extra instalada no decorrer dos circuitos e nas proximidades, banheiros químicos distribuídos estrategicamente, contudo sempre aquém da demanda populacional, televisão, jornais, outdoors e todos os meios possíveis de comunicação com propagandas de blocos mil e mercados abarrotados de cervejas e outras bebidas alcoólicas.

Barracas instaladas por todo o percurso, vendedores oficializados para não serem autuados e também clandestinos preparam-se para dormirem literalmente na rua durante a festividade. Tais vendedores podem para evitar a exposição, caso não possam deixar seus filhos com parentes ou amigos de confiança, colocá-los em abrigos oficiais durante o período, o que por parte do órgão público vale como uma das medidas preventivas contra o trabalho infantil, a qual habitualmente falha e via de regra costuma ocorrer, uma vez que a família incorpora a criança como mais um trabalhador dentro da economia carnavalesca.

CORDEIROS: A gente que separa gente de gente

Os dias de festividade se seguirão e enquanto uns pulam e divertem-se embalados por grandes hits não apenas do axé como de diversos segmentos, outros trabalharão arduamente, catadores irão recolher as latinhas e os cordeiros claro estarão presentes... Este ano os cordeiros continuarão a lutar para garantir os seus direitos básicos, como fornecimento suficiente de água para beberem durante os exaustivos percursos, protetores auriculares e luvas, além da oferta de um lanche digno. Sabemos que critérios para exercer a função nem sempre ocorrem, por isso se vê de tudo, menores de idade, mulheres, idosos e até grávidas, realmente como diz a música, acredito serem os mais valentes nessa luta do rochedo com o mar♪. 



 Durante a contratação, enquanto alguns blocos (os de grande porte) já emitem quatro vias de contrato e cumprem os seus deveres ainda que muito aquém do ideal, outros provavelmente nem contrato fazem. A existência de um sindicado dos cordeiros, ainda que contando até o ano de 2013 com apenas oito mil dos cinquenta que trabalhavam na festa já é um avanço da categoria que quem sabe futuramente ganhará uma cadeira (já reivindicada) no conselho municipal do carnaval, é preciso dar voz e vez a esses que se tornaram fundamental na atual dinâmica carnavalesca, ainda que tal função lamentavelmente remeta a vergonhosa herança escravocrata que mais dia menos dia precisa sim é ser superada.  Vale a pena conferir o documentário Vida de Cordeiro lançado em 2008, apesar de terem havido algumas mudanças, significativa parte dessa realidade continua a mesma.


BEBENDO E...

No carnaval bebe-se e muito álcool, bebe-se para se animar e esquentar para a festa, bebe-se para continuar animado e depois já alcoolizado bebe-se e nem se sabe mais para quê. Também se beija muito, é o famoso “ficar”, fica-se daqui e de lá, existem gandhys por exemplo que nem vão até o bloco, saem e ficam nas cordas de outros trios para paquerarem as moçoilas trocando os famosos colares por beijos, claro que os tradicionais seguem com o bloco embalados pelo afoxé.  

Tal clima de paquera permeia toda a festividade, claro que mesmo os beijos quando alcançam uma proporção épica podem trazer alguns reveses à saúde como transmissão de doenças, contudo sem entrar nessa seara ou na discussão dessas relações meramente objetais, o que deve valer é a vontade de ambos para o beijo porque caso se dê a revelia ai já implica em ato delituoso merecidamente passível de punição. 

Em um clima permissivo, regado a álcool e outras drogas, regido pela exacerbação do prazer que deve ser desfrutado ao máximo, em todo o seu potencial, alguns foliões passam do beijo e apesar de preservativos serem distribuídos no decorrer dos circuitos, apesar desses esforços, por motivos mil, mesmo assim, lá para setembro/outubro nascem os "filhos do carnaval" (se não forem abortados) e saber quem é o pai pode se tornar um enigma muito difícil de ser desvendado.

Durante a festa também postos de testagem rápida de HIV/Aids são instalados (o que efetivamente possui baixíssima validade, uma vez que se contraído durante o carnaval, não haverá tempo de detecção e os que já são portadores não me parecem ter nessa ocasião momento propício para saberem dessa notícia e sim dirigindo-se aos centros de testagem que oferecem um real suporte psicológico e de acompanhamento medicamentoso).


MÚLTIPLAS INTENÇÕES...



 As pessoas que vão para essa festividade são de mil matizes, a maioria realmente quer se divertir e desfrutar dos prazeres legítimos e outros tão urgentemente necessários quanto descartáveis. A maior parte acredita que beber (muitas vezes bastante) é indispensável, muitos jovens saem com seus amigos, àquela turma boa, querendo mesmo é “pular”, “ficar”, “curtir’... Entretanto, existem os que saem não só com o coração armado, mas também com as mãos, com sede de sangue, pensam em roubar, brigar, agredir, se vingar, o que inclui até mesmo matar, aproveitando o volume da multidão para agir e facilmente se despistar. Os boletins dos hospitais, especialmente de urgência e emergência, assim como dos postos colocados ao longo dos percursos são lamentáveis e as imagens que com certeza os programas sensacionalistas mostrarão também serão.

 Mesmo com policiais na rua (trazidos inclusive do interior para a capital) pretendendo coibir atuações criminosas e violentas, estes não são capazes de conter completamente tais ações e pela própria formação truculenta também acabam por atuar mais na repressão do que na prevenção tendo como maior base de intervenção a violência. Alguns policiais despreparados (quero acreditar/sonhar que uma minoria) abusarão do poder e baterão a torto e a direita majoritariamente em jovens negros, tendo claramente como pano de fundo questões socioeconômicas e raciais.

Durante as ações o tráfico de drogas é um dos elementos que despontam nas apreensões, apesar do encarceramento atingir mais fortemente os não abastados, o tráfico permeia todas as classes sociais envolvidas na festividade também circulando nos camarotes mais requintados, camarotes que diga-se de passagem chegam ao cúmulo de conseguir concessão para serem erguidos em plena praça pública, utilizando um espaço de direito do cidadão para fins particulares, revestindo valor desproporcional ao ganho à esfera pública pela sua utilização.


QUARTA-FEIRA DE CINZAS
   
 Depois de tanto pular e outros de trabalharem, a quarta-feira de cinzas chegará, aqueles que trabalharam juntamente com os que não tiveram condições de retornar para casa e dormiram na areia, ficarão para participar do inacreditável arrastão... Como sempre os banheiros químicos não darão conta das multidões e os jatos de água e sabão serão aquém do necessário, assim, somente a chuva poderá lavar efetivamente esta cidade, arquibancadas e camarotes começarão a ser desmontados e se não forem devidamente cobrados pelos órgãos de fiscalização, demorarão em fazer a cidade voltar à normalidade tendo o engarrafamento como um dos mais desagradáveis efeitos colaterais (desde a construção até o desmonte).

Carnaval é uma festa onde as diferenças (positivas e negativas) construídas ao longo da história se apresentam em poucos dias, por isso, ficam tão ampliadas às alegrias e tragédias. É mesmo urgente pensá-lo e refleti-lo em nível de Brasil, para que nos conhecendo melhor possamos propor as mudanças mais que necessárias inclusive pensando meios cada vez mais efetivos de coibir que brasileiros ou estrangeiros saiam de seus estados ou países e usem esse momento para fazerem turismo sexual, soltarem suas feras, deixarem seus lixos e depois voltarem para suas casas  nos deixando com feridas que tornam a ser reabertas a cada fevereiro e não cicatrizam jamais por não deixarem de fazer vítimas. 


Interessante o dado da pesquisa divulgada no ano de 2013 pela secretaria estadual de cultura em parceria com a superintendência de estudos econômicos e sociais da Bahia que revela que 77,9% dos soteropolitanos não participam da festa momesca, viajando ou permanecendo em casa assistindo pela TV, pelo jeito carnaval tem se tornado uma festa para visitantes. 


EM FIM...

Brincar com responsabilidade, na pipoca, no bloco, no camarote, tomar cerveja para refrescar (ainda que água, especialmente de coco e sucos sejam além de refrescantes, hidratantes, justo oposto do álcool), beber socialmente, sem fazer disso a mola propulsora para se sentir bem e se divertir, manter o coração desarmado, a mente consciente sem o direito de perder a lucidez e agir com insânia, sem ressacas físicas ou morais parece ser o modo mais equilibrado de vivenciar este período que nos convida a exacerbações... Apesar das peculiaridades de cada estado em comemorar, precisamos saber o que significa ser o país do carnaval e estar entre as cidades que promovem a festa. Para quem sabe brincar e vai para o carnaval divirta-se e muito, para quem é de descanso, aproveita o período para recarregar as baterias, do modo que melhor aprouver  bom período carnavalesco para todos!!