- Ah, eu tô nessa
correria faz tanto tempo, desde que eu era pequeno (rêrêrê), conheço todo esse
lugar aqui, é tudo familiar pra mim. Eu não costumo aprontar não, os polícia
tão sempre ai de olho na gente, louco pra descer a madeira, é bom não dá motivo
né? Só quando a situação tá bem apertada que a gente passa o rodo nos vacilão,
mas ai é pegar e sai correndo, tem que ficar entocado por um tempo tá ligado?
- De manhã? Ah de manhã
eu não passo aperto não, tem umas tias na lanchonete que sempre me dão café,
mingau, pão, lá na frente eu não peço nada aos comprador, não estendo a mão, pô
elas fortalece comigo, não vou embaçar o lugar né? O patrão delas sabe e deixa,
um dia ouvi ele dizendo “é melhor dar do que ele vir roubar”. Ainda tenho moral
de pedir água, você não sabe a sede que dá quando a gente acaba de acordar, a
garganta é uma secura só!
- Depois estico as
pernas pra cima na parede de lá pra fazer a digestão, fico uns 10, 15 minuto e
já fico no ritmo, ai é voltar pra correria, sabe como é que é, cada dia, é um
dia!
- Da minha mãe e do meu
pai? Ah, disso não tenho muita ideia não, mas falam que ele era
mó doidão!! Ele sumiu no mundo e ela me criô, até quando pôde. A coroa era
danada, ficava comigo no colo, só na pidança pra poder comover, depois gastava
tudo com a maravilha, sabe como é que é, fazer o quê?...
- Um dia me disseram que
tava tremendo e babando, fazendo espuma feito sabão, quando a ambulância veio
não deu tempo de salvar, fazer o quê? A coroa foi guerreira, mas não pode
vacilar.
- Eu já tinha uns seis
anos, já sabia me cuidar, já conhecia até meus mano, o “Rastera” e o “Picolé”,
a gente ainda pega uns pombo até hoje e ai vendemo pra uma mulher, dizem que
ela faz bruxaria, mas e daí? Vou ter medo? Colé! Quero mais é ganhar um
qualquer.
- Sobre a
maravilha? Ah, acho que já nasci viciado, deve ser herança do meu velho e da
minha mãe, o saco também era bom, mas hoje só pra socorro, quando não tem
jeito, tem um sapateiro ali embaixo que é amigo do peito, ele sempre vende um
pouquinho se a gente quiser comprar, tem vezes que é ele quem chama a gente e
dá de graça se a gente for comprar, é que ele também é chegado, mas só na
farinha que é isso que home como ele costuma usar.
- Os mano já guarda
carro na moral, mas os adulto não leva fé em mim, acham que eu ainda
sou muito guri, é porque não cresci (rêrêrê). Então, o jeito é a pidança mermo,
que daí dá pra eu usar 7 ou 8 maravilha, tá ligado? É o que há!
- Do amanhã? Mano quem
sabe do amanhã? Eu tô aqui, o negócio é viver, curtir! Adoro pegar pombo, isso
é curtição e também assustar os vacilão, passa pela gente cheio de medo, boto
logo minha cara de mau, eles fica tudo tremendo, e a gente ri muito namoral.
- Que idade eu tenho?
Poxa, ai você me pegou irmão! Pelas minhas conta devo ter uns dezesseis, mas
ninguém leva fé, o que é que você acha? 11, 12 né freguês? (rêrêrê).
-O quê? Você pode
repetir?
-In-vi-si-bi-li-da-de
social? Pô mano que é que é isso na moral?
...
- Ah, entendi, claro que
eles vê a gente, oxente! Mas como eu disse morre de medo, senti mô pavor, fazer
o quê? Uns só falta correr! Quando dá desvia, atravessa a rua, mas também têm
outros que fica com peninha, que tem dó, joga umas moeda pra gente, adianta um
trocado, ai é o melhor!
- O quê? O que eu vou
ser quando crescer? Ah mano, a vida é curta, deixa de zoeira, vamo ficar por
aqui tá, parei com você!