sábado, 26 de outubro de 2013

3X4 de um Guri


- Ah, eu tô nessa correria faz tanto tempo, desde que eu era pequeno (rêrêrê), conheço todo esse lugar aqui, é tudo familiar pra mim. Eu não costumo aprontar não, os polícia tão sempre ai de olho na gente, louco pra descer a madeira, é bom não dá motivo né? Só quando a situação tá bem apertada que a gente passa o rodo nos vacilão, mas ai é pegar e sai correndo, tem que ficar entocado por um tempo tá ligado?

- De manhã? Ah de manhã eu não passo aperto não, tem umas tias na lanchonete que sempre me dão café, mingau, pão, lá na frente eu não peço nada aos comprador, não estendo a mão, pô elas fortalece comigo, não vou embaçar o lugar né? O patrão delas sabe e deixa, um dia ouvi ele dizendo “é melhor dar do que ele vir roubar”. Ainda tenho moral de pedir água, você não sabe a sede que dá quando a gente acaba de acordar, a garganta é uma secura só!

- Depois estico as pernas pra cima na parede de lá pra fazer a digestão, fico uns 10, 15 minuto e já fico no ritmo, ai é voltar pra correria, sabe como é que é, cada dia, é um dia!

- Da minha mãe e do meu pai? Ah, disso não tenho muita ideia não, mas falam que ele era mó doidão!! Ele sumiu no mundo e ela me criô, até quando pôde. A coroa era danada, ficava comigo no colo, só na pidança pra poder comover, depois gastava tudo com a maravilha, sabe como é que é, fazer o quê?...

- Um dia me disseram que tava tremendo e babando, fazendo espuma feito sabão, quando a ambulância veio não deu tempo de salvar, fazer o quê? A coroa foi guerreira, mas não pode vacilar.

- Eu já tinha uns seis anos, já sabia me cuidar, já conhecia até meus mano, o “Rastera” e o “Picolé”, a gente ainda pega uns pombo até hoje e ai vendemo pra uma mulher, dizem que ela faz bruxaria, mas e daí? Vou ter medo? Colé! Quero mais é ganhar um qualquer.

- Sobre a maravilha? Ah, acho que já nasci viciado, deve ser herança do meu velho e da minha mãe, o saco também era bom, mas hoje só pra socorro, quando não tem jeito, tem um sapateiro ali embaixo que é amigo do peito, ele sempre vende um pouquinho se a gente quiser comprar, tem vezes que é ele quem chama a gente e dá de graça se a gente for comprar, é que ele também é chegado, mas só na farinha que é isso que home como ele costuma usar.

- Os mano já guarda carro na moral, mas os adulto não leva fé em mim, acham que eu ainda sou muito guri, é porque não cresci (rêrêrê). Então, o jeito é a pidança mermo, que daí dá pra eu usar 7 ou 8 maravilha, tá ligado? É o que há!

- Do amanhã? Mano quem sabe do amanhã? Eu tô aqui, o negócio é viver, curtir! Adoro pegar pombo, isso é curtição e também assustar os vacilão, passa pela gente cheio de medo, boto logo minha cara de mau, eles fica tudo tremendo, e a gente ri muito namoral.

- Que idade eu tenho? Poxa, ai você me pegou irmão! Pelas minhas conta devo ter uns dezesseis, mas ninguém leva fé, o que é que você acha? 11, 12 né freguês? (rêrêrê).

-O quê? Você pode repetir?

-In-vi-si-bi-li-da-de social? Pô mano que é que é isso na moral?
...

- Ah, entendi, claro que eles vê a gente, oxente! Mas como eu disse morre de medo, senti mô pavor, fazer o quê? Uns só falta correr! Quando dá desvia, atravessa a rua, mas também têm outros que fica com peninha, que tem dó, joga umas moeda pra gente, adianta um trocado, ai é o melhor!

- O quê? O que eu vou ser quando crescer? Ah mano, a vida é curta, deixa de zoeira, vamo ficar por aqui tá, parei com você!



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Gente


Não é terra sem fronteira,
Não é roça sem cercado,
Não é casa sem porta,
Nem portão sem cadeado,
Ao chegar, cai bem,
O silêncio, a espera, o cuidado.