Quase tudo o que pensamos saber sobre o vício está errado e se
começarmos a absorver as novas provas sobre ele, acredito que nós vamos ter que
mudar muito mais do que as nossas políticas de drogas.
Imagine que três vezes ao dia durante vinte dias você fizesse uso de
heroína. O que aconteceria? Temos uma história sobre o que iria acontecer que
nos foi dito por um século. Nós pensamos que porque existem ganchos químicos em
heroína, seu corpo se tornaria dependente e você começaria a precisar deles
fisicamente e no final desses 20 dias, você teria se tornado um viciado em
heroína. Certo? Isso foi o que eu pensei. Mas e quando as pessoas ficam
hospitalizadas por um longo período fazendo uso de diamorfina que é heroína em
estado puro, por que quando recebem alta não se tornam dependentes?
O professor de psicologia em Vancouver Bruce Alexander realizou um
experimento que realmente nos ajuda a entender esta questão. Ele colocou um
camundongo em uma gaiola com duas fontes de água, uma em estado puro, outra
misturada com heroína ou cocaína e o animal quase sempre preferiu a água
alterada vindo a morrer rapidamente.
Mas o pesquisador observou que colocou o animal em uma gaiola vazia sem
nada para fazer exceto usar drogas e se propôs a fazer algo diferente:
construiu uma gaiola que nomeou “parque de rato” onde eles tinham queijo, um
monte de bolas coloridas, túneis, um monte de amigos e sexo.
Nessa gaiola os camundongos também foram expostos a ambas fontes de água
(normal e drogada), mas aqui o resultado é fascinante: no “parque de
ratos” eles não gostam da água com drogas, eles quase nunca a usam,
nenhum deles jamais a usou compulsivamente, nenhum deles jamais teve
overdose. Você vai de quase 100% de overdose quando eles estão isolados para 0%
de overdose quando têm vidas felizes e conectadas.
Tais resultados se repetiram quando observados os retornos dos soldados
da guerra do Vietnan de cuja tropa, 20% fazia uso de heroína. Tais soldados
acompanhados nos retornos aos seus lares e desses, 95% sem passar por nenhuma
espécie de reabilitação, simplesmente parou o uso, não se tornaram adictos.
Nesse contexto o pesquisador questiona-se: e se o vício não for causado
pelas conexões químicas que ocorrem durante o uso prolongado da substância? E
se o vício for uma resposta adaptativa ao meio ambiente?
O professor Peter Cohen na Holanda propõe que talvez não devêssemos
chamar vício e sim ligação. Os seres humanos têm uma necessidade natural e
inata de ligação e quando estamos felizes e saudáveis, nós vamos ligar e se
conectar uns com os outros, mas se você não pode fazer isso, porque você está
traumatizado ou isolado, ou abatido por vida, você vai se relacionar com algo
que vai lhe dar alguma sensação de alívio. Agora, isso pode ser o jogo, a
pornografia, a cocaína ou a maconha, mas você vai se relacionar e se conectar
com alguma coisa, porque essa é a nossa natureza, isso é o que queremos como
seres humanos.
Uma parte essencial da dependência diz respeito sobre o dependente não
ser capaz de suportar estar presente em sua própria vida e ao invés de ofertar
um suporte à eles, nós os punimos, envergonhamos e lhes damos registros
criminais, colocamos barreiras para que eles possam se reconectar e o que
devemos fazer é justamente o oposto, a mensagem a ser passada é: você não
está sozinho, nós amamos você.
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