Nessa perversa dinâmica do capitalismo selvagem onde o ter substitui o valor do Ser seguimos retroalimentados por essa sede insaciável que nos faz voltar os
olhos apenas para o nosso próprio umbigo, quando muito longe esse olhar
alcança tão somente aqueles com que possuímos algum
tipo de laço/vínculo e essa forma tão precária e restrita de olhar,
circunscrita a um determinado perímetro serve apenas para nos anestesiar das
mazelas em que muitos semelhantes estão entregues ao nosso redor.
Além de todos os aspectos da conjuntura política e social que vivenciamos
em países como o Brasil, além do reconhecimento do livre arbítrio, o qual teoricamente todos possuem para opinar sobre suas escolhas, acredito que seja válido nos
perguntarmos o quanto o nosso egoísmo também possui co-responsabilidade nesse
cenário que na maioria das vezes testemunhamos omissos, tão imersos que estamos
em nossas demandas cotidianas.
Somente assim é que esse complexo sistema pode se sustentar, apenas assim
é possível compreender, tentar justificar, essa nossa anestesia frente à
indignidade a que muitos semelhantes são atirados, vivendo uma não vida na
busca por sobreviver... Se fossemos uma sociedade fraterna não testemunharíamos
tantas mazelas que se somam sem nada fazer, na realidade muitas delas não
teriam razão de existir.
Essa perspectiva que aponta o nosso egoísmo como co-responsável se
espraia por muitos setores, afinal estamos mais preocupados em adquirir o
próprio carro do que lutar pelo transporte coletivo, em poder pagar um plano de
saúde, uma educação particular a lutar para que o sistema público funcione do
modo como deveria funcionar. Estamos mais preocupados em individualmente
conseguirmos nos salvar dos bolsões de miséria em que são entregues os
desvalidos do que com eles lutar, em adquirir as quinquilharias que representam
um passaporte para um pseudo modo de viver bem e melhor, onde o status quo é a
maior preocupação na convivência social... Quanto tempo será preciso para que
possamos despertar e desembaçarmos o nosso olhar?
As diferenças que criamos continuam implicando em desigualdades terríveis, sem nos darmos conta de que elas são construções feitas apenas para nos iludir,
o forte continua utilizando a sua força não para ajudar o mais fraco e sim para oprimi-lo,
daí o que se segue é uma débil luta entre classes, com explosões de violência
para mostrar a nosso falido modo de convivência, mas isso é bem verdade Marx explica
melhor... De todo modo o que temos tido até então são vidas que valem mais do que outras e já é tempo
de arregaçarmos as mangas e de consciência plena fazermos melhores escolhas, somente
assim esse país, esse planeta vai para frente, por enquanto temos dado apenas
voltas ao redor de si, mas lembremos que a própria terra não vive apenas de rotação, temos muito que aprender com o seu movimento de translação, afinal ele bem pode ser visto como um exemplo/convite para lançarmos o olhar para além dos limites de si...
"...De todo modo o que temos tido até então são vidas que valem mais do que outras..."
ResponderExcluirCom que direito ousamos pensar assim? Malditas classificações que categorizam os seres humanos e segregam.
Me parece que estamos inseridos numa verdadeira selva de pedras onde o mais forte (ricos/de posse/ os ditos superiores) sobrevivem. E os que não se enquadram nesse "perfil" são lançados às margens da própria sorte.
Pobres almas que só clamam por dignidade e infelizmente não são conscientes do seu poder. Ainda sonho com o dia em que o nosso povo ao invés de aceitar as condições precárias que nos empurram como vida, se unissem e exigissem o que lhes é de direito. Sempre que penso nas pessoas se unindo pra exigir melhorias, só me vem a cabeça aquele texto da Brava Companhia: Trabalhadores é hora de perder a paciência! Seria lindo ver nossa gente vivendo com dignidade porque escolheram contrariar o sistema. Mas já que isso, por enquanto é um sonho, te parabenizo pelo olhar sensível e por não se conformar em passar pelas ruas do Campo Grande (é né?) e ver essas pessoas em cenas tão tristes e lamentáveis, transformar isso em imagens e as imagens em texto. A luta é grande, e estamos de olho, alertas e conscientes!
Ah Tati, essa é uma face dura e amarga da vida que revela o quanto ainda estamos atrasados, é o lado obscuro da humanidade, nesse tipo e em tantos outros aspectos da violência, sim porque essa situação também é de violência... Certamente temos muito que caminhar e precisamos começar a andar desde já isso já é um chavão! E não é fácil esse movimento, cabe a cada um de nós no nosso cotidiano pensar em que podemos contribuir, longe da ideia de assistencialismo piegas, mas algo mais contundente, acredito que vamos descobrindo no caminho. Ah, duas foram no campo grande, outra na ondina e tenho em outros espaços da cidade, com essas expressões genuínas... Sigamos em alerta e que ações possam vir também por nossas mãos.
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