domingo, 7 de julho de 2013

A separação



Eu ficava sempre na janela, coração na mão a espera de você chegar... Será que vai vir durante a madrugada ou só quando o sol raiar?Quando apontava no início da rua, voltava para cama e fingia que dormia, que não ouvia o barulho no portão, a preocupação cessava, mas, a mágoa não. Pela manhã me contava uma história qualquer e eu fingia que acreditava e não saber que se tratava de outra, além da outra mulher.

Cinco anos se passaram e eu ainda alimentava a ilusão de que um dia você iria mudar, iria reconhecer o meu valor e eu estaria ali de braços abertos, disposta a perdoar e te dar meu amor.Mais um ano e você não mudava, e fui ficando cansada, perdendo a esperança, calejando o coração. As crianças eram motivo para continuar, elas precisavam ter uma família, um lar.  As crianças eram pretexto para eu negar minha covardia, minha falta de coragem para mudar.

Dezembro já apontava e eu pensava, mais um ano não! O que eu estava fazendo comigo, parada ali, me tornando amargurada, distante dos amigos, já nem sabia o que era sorrir. Por quê continuar se era tolice insistir?

Naquela noite eu nem consegui dormir, mas não por estar mais uma vez a sua espera, eu tecia uma nova vida pra mim, quando o sol raiou, era eu quem renascia, bem antes do seu relógio despertar, eu fui fazendo as malas e nem dei por ti, que acordou com ar de inocente me perguntando o que estava acontecendo ali.

-Ora, acabou meu bem, é o fim! Estou cansada de forçar a barra da vida, cansada de esperar por você, que vê em mim uma mãe, uma babá, uma dona de casa, uma escrava do lar, mas, não alguém que você soubesse, que fosse capaz amar.
- Sei que não é o único culpado, afinal ninguém constrói sozinho uma relação e ao me calar fui conivente, cega, inexperiente, entregue aquela paixão. Por favor, não tente me deter, não segure a minha mão... Acabou, quero a separação!

Janeiro se anunciava e o ano era inteiro novo, novos ares naquele verão, as crianças não se afastaram de você, parece até que agora lhes dar mais atenção. Dizem até que você não bebe mais, que antes das dez chega em casa, se esforçando por ser um bom rapaz.  Ousam me aconselham a reconsiderar, mas agora sou pássaro livre, voo mais leve do que o ar!

Retomar os estudos, voltar a trabalhar, fazia tantos planos, a vida pulsava em meu peito e eu não a iria mais sufocar, me sinto até mais bonita, vejo a vida colorida e sei que ainda posso voltar a amar.



2 comentários:

  1. Olá :)
    Que conto forte,emocionante,verdadeiro.E bonito.
    Gostei demais!
    Voltarei outras vezes.
    Bjs!

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  2. Obrigada Clau,
    Volte sim, será sempre bem vinda!
    Apesar de não ser casada ou ter filhos,
    fico feliz em ter conseguido passar uma verdade.
    ;-)

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