quarta-feira, 27 de março de 2013

Classe média: A efervescência brasileira.



Sociedade neoliberal, sociedade do espetáculo, do investimento capital, mas, para onde nos conduzimos assim? É preciso questionar, refletir... Há segundos atrás conseguimos retirar milhões de pessoas da extrema pobreza, da miséria, mesmo que seja (e é necessário ponderar) através de uma política de assistencialismo, já que no Brasil, bolsas famílias se revelam lamentavelmente necessárias. O país se desenvolveu e continua a crescer desordenadamente, na contemporaneidade vivenciamos os efeitos cuja causa se originam em um passado escravocrata, de uma terra espoliada, que não teve condições estruturais de ordem política, econômica e cultural para modificar seu quadro social.

   Para falar de classes sociais neste país é necessário lembrar que existem subclasses dentro das mesmas e levar em consideração que há muitos Brasis”, resultando em uma variação bastante complexa, fazendo com que a condição do sul, difira da do norte, esta do nordeste, acarretando significativas peculiaridades, há um Brasil em intenso progresso e outro que ainda está dando os seus primeiros passos. Na tentativa de abarcar o conceito de classe de modo amplo é que vamos falar da classe média em termos gerais, 
por ser a camada aonde atualmente reside toda a efervescência brasileira, classe que alavanca e movimenta a economia, ganhando a cada dia novos adeptos que de modo geral estão ávidos pelo consumo.

Quando as transformações parecem difíceis de serem operadas de modo conjunto, modificando as condições estruturais, nesse caso, quando parece irrealizável uma efetiva reforma política e social que resulte em uma sociedade mais igualitária e democrática, a possibilidade de ação no campo individual que faça com que o indivíduo se insira em uma melhor condição, neste caso migrando de classe social, através do uso de vários recursos cujo principal é o estudo, onde o conhecimento ganha status de investimento capital para que ele consiga melhores condições de trabalho e remuneração, tem sido a grande tábua de salvação que essa nova classe média emergente tem se segurado firmemente. Com ações no campo individual, guiada pelo ditado "Cada um por si e Deus por todos"  continuamente se desenvolve esta  classe que apesar de não caminhar coesa possui e constrói o tempo inteiro objetivos em comum.

   Preocupada em estar antenada com a tecnologia, em remobiliar sua casa, em ter TV a cabo, aprender inglês, ter plano de saúde, pagar academia, o ensino particular para os seus filhos, a meia bolsa pelo ENEM em faculdades particulares ou em ganhá-la integralmente, essa classe começa a desfrutar mais e melhor do seu tempo livre, investindo em momentos de lazer, fazendo viagens domésticas e  muitas vezes internacionais, mesmo que com longas parcelas. A possibilidade de parcelamento lhe permite vislumbrar a casa própria, o automóvel, montar o próprio negócio chegando caso queira a se tornar um micro empresário. A classe média é a efervescência da sidra e do pró-seco, deslumbrada com suas conquistas, essa classe parece querer dar o seu grito de libertação e cada vez que pode, assim o faz, buscando distanciar-se dos não abastados que não possuem representatividade e pode-se dizer sem medo, que não possuem valor na sociedade do consumo, do espetáculo.

   Essa classe quer ser bem tratada e vive a tentar espelhar as classes que lhe sobrepõem,  quando lhe é possível, compra artigos originais, quando não, lança mão das falsificações, talvez, seja de todas as classes a mais ligada às marcas, ter ou parecer que tem revela-se fundamental. Se de modo geral estamos a maior parte do tempo preocupados com a representação de um ideal disseminado para ganhar status dentro da sociedade do consumo, é esta classe que quando viaja tira fotos dentro do avião e na piscina do hotel dando seu “grito de libertação”.

   Ninguém mais do que a classe média sonha em ganhar na mega sena para deixar o emprego que o tempo inteiro a afirma como força de trabalho alienada, ganhar para viver de renda com a ilusão de que com milhões a vida estaria “feita”, com uma garantia de viagens intermináveis e felicidade perpétua. As classes mais abastadas não efervescem no Brasil, não só por ser uma ínfima minoria, mas porque não gozam das ilusões típicas dessa classe (possuem outras tantas é bem verdade), além disso, toda a riqueza que possuem lhes é familiar, completamente naturalizada. 

  Entretanto, ao contrário do que se supõe, para os que gozam de melhor condição monetária também existe a necessidade de trabalho ainda que possam flexibilizar seus horários e não só para manterem ou aumentar o patrimônio, mas também por uma demanda pessoal, uma vez que a vida não permite estagnação, pede movimento, trazendo sempre novos desafios, por isso Steve Jobs trabalhou até quando pôde mesmo convalescendo e Eike Batista continua na "labuta" para  manter e aumentar os seus bilhões.

   Pensar quais serão as transformações que o Brasil terá a médio e longo prazo com essa mudança social que tende a se intensificar, quais os paradigmas que estão sendo (des) construídos e o que virá para as novas gerações em termos estruturais, sócio-político-culturais são reflexões que devem ser suscitadas com o compromisso de trazerem reais benefícios para a população, afinal, ainda somos um país de analfabetos totais ou funcionais, com ensino e saúde pública vilipendiados, onde existem famílias que vivem com renda per capita de R$70,00 por mês ou menos  e que  não possuem representatividade na já mencionada, sociedade do consumo, do espetáculo, negativamente individualista, fazendo valer o ditado: “é cada um por si e Deus por todos”.

É fundamental que esse consumo seja consciente, não desenfreado, toda essa avidez com mil exigências de bens a si conquistar, toda essa correria a que nos entregamos clamam por bom senso, ponderação, afinal, para onde os homens correm? Talvez apenas para longe de si mesmos, com o foco no exterior, distanciando-se de sua essência, é necessário que saibamos caminhar mantendo os pés no chão, que o país cresça e se desenvolva sem esquecer seus filhos, fazendo-os verdadeiros cidadãos.

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