A necessidade de respeito à diversidade de crença e expressão
religiosa é fator inquestionável, entre os crentes, ateus e agnósticos,
admiráveis são os capazes de professar sua filosofia de vida sem desrespeitar
as muitas outras existentes. Em uma sociedade
democrática, países pretensamente laicos como Brasil, asseguram na
constituição o direito a liberdade de expressão, entretanto, esses mesmos
direitos demandam deveres, a nossa liberdade começa onde a do outro termina,
não é assim que nos aconselha o sábio ditado?
Desde que as discussões sejam saudáveis, sem se prenderem de
forma tacanha a qualquer sorte de radicalismo e consequente ridicularização do
próximo é que é possível e assegurada à liberdade de expressão, a justa medida
será sempre o respeito, o qual representa uma árdua conquista, sendo inclusive
sinal de maturidade de quem assim age. Afinal, o homem certo de suas convicções
não precisa desprender energia desqualificando a crença ou descrença alheia,
muito menos desgastar-se em proselitismo religioso com idéias salvacionistas,
certamente é necessário o meio termo, o bom senso, para que não
caia em fanatismo.
Quando surgem especialmente na Europa e nos
EUA termos como islamofobia, representando um sentimento de repulsa aos
muçulmanos e aos adeptos do islã como se todos fossem terroristas, ou quando
aqui no Brasil pesquisas realizadas por fundações como a Perseu Abramo em 2009
revelam o grande nível de intolerância dos brasileiros diante dos cidadãos que
se declaram ateus, comparando o grau de discriminação ao que sofrem os usuários
de drogas, é interessante perceber como o preconceito obstrui a razão e
limita a visão.
Claramente existem muçulmanos éticos que vivenciam os dogmas de sua religião sem fundamentalismo, assim como pelo fato do indivíduo ser ou não ateu não há relação direta ou indireta que implique em bom ou mau caráter. Inclusive existem ateus que na vivência de sua cidadania são bastante crísticos, os budistas, por exemplo, mesmo dissociados da dimensão deísta, são extremamente espiritualizados, guardando semelhanças impares com os cristãos em sua forma ética de refletir, questionar e propor melhorias no nosso modo de viver em sociedade.
Outros ainda, não budistas, seguindo a mesma lógica ética, ao
proporem melhorias e fazerem reivindicações pertinentes, são muitas vezes os
agentes protagonistas de grandes revoluções sociais como Karl Marx e de
significativa contribuição científica como Albert Einstein, Thomas Edson,
Dráuzio Varela... E tantos outros igualmente identificados a lutas de valores
humanitários (o que se coloca como ideal infinitamente maior a essa
diminuta questão de crença) fortalecendo o time dos que sobrepujam as
necessárias transformações sociais.
O questionamento válido talvez seja nos perguntarmos o quanto
a partir desses diferentes caminhos estamos sendo capazes de contribuir
na construção de sujeitos éticos, cidadãos críticos, consciente de
seus direitos e de deveres. Toda a sorte de intolerância deve ser vivamente
combatida, porém, é claro, não com a recíproca em igual moeda. Viva a
diversidade e o respeito às demandas existenciais de cada um, com
suas respectivas convicções a lhes fornecer e garantir um modo próprio de ser e
estar no mundo.
Somos semelhantes e não iguais, as diferenças fazem parte,
precisamos aprender a conviver com elas, se quisermos melhorar o lamentável
quadro de intolerância que se encontra em nível mundial, não será impondo nosso
ponto de vista. Ao sair em busca das transformações sociais, é preciso estar
aberto ao diálogo e alicerçado sob valores humanitários, a fim de que uma
pretensa certeza, não se torne apenas um pretexto para a manutenção das
pequenas picuinhas do dia-a-dia até as grandes guerras. O respeito à
liberdade de crença significa o reconhecimento dos diferentes caminhos que o livre
arbítrio nos permite trilhar e nesse sentido, não há certo nem errado, melhor
nem pior, apenas o sapato que melhor nos cabe no pé, a roupa que ao vestirmos
nos sentimos mais confortáveis neste momento existencial.
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